quarta-feira, setembro 21, 2005

Maria

Quando chegava a primeira semana de Novembro, Maria metia férias, fechava-se em casa e acendia dezenas velas que ia acumulando ao longo do ano e espalhava-as pelo chão, beirais das janelas e no topo dos armários; eram velas em forma de bola com um pequeno pavio indiano, velas quadrados azuis, velas em forma de cilindro, velas iguais a velas. Encharcava depois a casa de paus de incenso com cheiro a mar, mirra e canela. Cada chama um nome cada incenso um livro cada memória um trago de fumo cada amigo uma luz. Depois concentrava-se, apenas nessa semana do ano, no pensamento que mais a atormentava e então sussurrava às escuras: toda a gente que conheço e amo vai desaparecer um dia, tudo que conheço vai desaparecer, nada é eterno, vale a pena aguardar mais mortes amigas? Alguns dias mais tarde e quando da escuridão de sombras provocadas pelas chamas, sentia o medo a desaparecer, Maria apagava as chamas, abria todas as janelas de casa, abafava os incensos e retomava a vida mais optimista.

2 comentários:

Anónimo disse...

abafar velas, tá bem...
para alguns...

Anónimo disse...

se funcionar, essa do isolamento, avisa que encerro-me atntes do ano lectivo começar! A ver se expulso estes demonios todos que teimam em ficar comigo!

Já não há pachorra...