sábado, agosto 06, 2005

Dia de pesca

Acordei sobressaltado já passavam dez minutos do meu horário de trabalho. Tomei banho à pressa, engoli um copo de leite frio, vesti-me, abri a porta da rua e voltei à sala; sentei-me, hoje não ia trabalhar. O dia estava lindo e o sol primaveril espreitava pelas janelas. “Estou? Susana? Diga por favor ao Sr. Luís que não vou trabalhar, passei mal a noite e vou ver se arranjo uma consulta.” Fui à despensa e tirei as canas de pesca, herança do meu avô; testei o carreto em frente ao espelho. “O Sr. Luís telefonou a dizer que também não vinha trabalhar, parece que o mal é geral”. O carreto lubrificado com óleo de fritos deslizava na perfeição; chumbos em forma de corações e anzóis em forma de anzóis. Vesti um colete verde tropa que nem sabia existir. Arrumei as tralhas dentro de um saco de pano com cheiro a minhoca tostada e desci as escadas, eu, o pescador. Só depois de arrancar o carro é que me lembrei que nunca tinha pescado sozinho o que só aumentou a minha determinação.
Um cartaz na marginal: “Temos Bixa.” Mas naquele dia, só pulga: “É melhor para o robalo.”
Montei um pequeno banco de tecido. A primeira vez que lancei, ficou tudo no rio, só não foi a cana porque a agarrei, a linha velha e gasta rebentou; só um pequeno contratempo até o robalo de cinco quilos saltar para o meu cesto. Lancei. Foi um bom lançamento quase alcançando Gaia; sem obviamente exagero nenhum. Sentei-me à espera. Os barcos, os barcos rasgando a água. O sono morno. Um casal passeando de mão dada. Um puxão, agarrei na cana, outro puxão. “Deixa-o cansar, o peixe precisa de pensar que está a salvo, não queiras tirá-lo logo, dá-lhe linha, não o assustes.” Senti-lhe o pulso dei-lhe linha e ele foi. Por cada espaço que lhe concedia, puxava o dobro para a margem. Com a mão livre tentei chegar ao saco. O coração disparou, o Sr. Luís, olhava-me por cima do ombro. Estava acompanhado de uma jovem e bela rapariga. Parei. Fingi não ver. “Não deixe o peixe escapar homem”. Tentei concentrar-me no peixe, vi-lhe a boca na superfície espelhada. Estava sem forças para se debater, no ponto onde eu o queria. Levantei a cana e agarrei-o com a mão esquerda. “Que belo peixe”. Disse para a sorridente adolescente recomeçando a andar. Mas era só uma velha tainha e aquela rapariga não era a mulher do Sr. Luís.

5 comentários:

Anónimo disse...

No Douro? Só se forem robalos castanhos!

Anónimo disse...

bem, ó alma gémea, eu tb gosto de pescar, mas com caniço e nunca em sítios onde haja tainhas!
Tudo de bom para ti!

Nuno Vieira disse...

nunca comi um peixe que pesquei...para mim a pesca é a luta na ponta da linha...

Anónimo disse...

para mim a pesca é o exercício completo, que inclui pescá-lo, ver se saiu alguma coisa de jeito (se não saiu não faz mal, dá para isco), duas de treta, uma viagem a um sítio qualquer magnífico e claro... papá-lo no fim! No pacote ainda a banhoca, de preferência em alto mar. Mas se for nos Açores, de qualquer rocha se pesca o jantar...

Nuno Vieira disse...

isso são outras pescas Inês...