quarta-feira, agosto 31, 2005

O palácio (Work In Progress) 4

Pronto, o primeiro paragráfo que afinal são dois está pronto apesar de achar que ainda há alguns pontos que podem ser melhorados.
“O Palácio Botelho herdou o nome do seu mais famoso inquilino, o Conde Botelho. O conde foi o último dos grandes boémios portugueses que o século XIX conheceu. O palácio deve igualmente ao conde o seu grande apogeu ocorrido na última década do século XIX. Nessa altura os jantares eram iluminados por candelabros de Paris e incenso da Índia. Pelos sumptuosos salões, políticos faziam politica enquanto namoriscavam donzelas ao som das valsas de Strauss. Era o local portuense onde as soirres eram mais sofisticadas e desejadas. Pelos portões dourados, magnificentes coches de seis cavalos trotavam ocultando os seus discretos ocupantes. Já em pleno século XX, o palácio, viria a conhecer uma lenta degradação, abandono e por fim o esquecimento, tudo em parte pela ruína financeira do conde que não entrou no novo século com tinha saído do antigo.
Quando foi comprado ao estado pela construtora Alves & Alves Lda., um século após as badaladas festas, o palácio estava velho, o telhado desfazia-se pelas intempéries, as paredes bamboleavam ao sabor dos camiões que atravessavam a rua e pedras seculares desmaiavam pelos cantos das salas mais obscuras, só recordando os tempos áureos a alguém com uma imaginação perspicaz. Mas a zona onde estava situado, a enormidade do terreno que ocupava e a beleza exterior do edifício, fez dele um negócio apetecível que os irmãos Alves & Alves, não deixaram escapar; só a fachada restaria do palácio e falou-se em condomínio fechado com garagens individuais e piscina. Este episódio tinha ocorrido há quase três anos, escritura, papéis assinados, licença de obras, tudo arrastado até ao início da reconstrução que começou há uma semana com uma limpeza interior. Contratou-se uma empresa para retirar entulho, arrebentar soalhos, raspar paredes, arrastar móveis e começar desde já a deitar abaixo algumas paredes que não implicassem a sustentabilidade do edifício. Tudo corria bem até os trabalhadores contratados se começarem a queixar dos exércitos de pulgas aranhas ratos que trepavam pelas pernas e se infiltravam na roupa interior, causando comichões vermelhões irritações e sabe-se-lá-que-mais, obrigando-os a fugir espavoridos para a rua mais de dez vezes por dia e procurar os desagradáveis bicharocos nas cuecas meias e virilhas. Contactou-se uma empresa de desinfecção e este vosso humilde narrador e escriturário da Alves & Alves, foi a pessoa encarregada de abrir as colossais portas de dois metros e meio em madeira maciça ao exterminador, já que por esta altura o pessoal contratado se recusava, alegando saúde pública e privada, a por lá os pés até a situação estar controlada e um perímetro de segurança levantado.”
Andemos para a frente antes que a blogosfera perca a paciência...

terça-feira, agosto 30, 2005

O palácio (Work In Progress) 3

Hoje não tive grande tempo para rever, mas um pequeno parágrafo surgiu enquanto pensava no post de hoje.
"O Palácio Botelho ganhou o nome do seu mais famoso inquilino, o Conde Botelho. O conde foi o último dos grandes boémios que o fim século XIX conheceu. O palácio deve igualmente ao conde o seu grande apogeu que ocorreu nas últimas décadas do século XIX e inícios do século XX. Nessa altura as grandes salas eram iluminadas por candelabros de Paris e pelos salões, políticos faziam politica enquanto namoriscavam ao som de valsas. Era o local das soirres mais requintadas e desejadas e pelos portões dourados, magnificentes coches de seis cavalos galgavam em fila indiana. O palácio, a partir da ruína financeira do conde, viria a conhecer uma lenta degradação, abandono e por fim o esquecimento."
Ainda não sei se arranco daqui mas amanhã o primeiro parágrafo vai ficar concluído.

segunda-feira, agosto 29, 2005

O palácio (Work In Progress) 2

Vou seguir o método, imagine-se a presunção, de Gabriel Garcia Marquez, que diz no seu "Viver para contá-la", que nunca passa de parágrafo antes de ter a certeza que o que fechou está cem por cento como ele quer. Então depois de ver o que tinha escrito ontem, resolvi dar uns ajustes e com as alterações ficou assim.
"O Palácio, foi comprado por uma pechincha, estava velho, o telhado desfazia-se fruto de anos de intempéries, as paredes bamboleavam ao sabor dos camiões que atravessavam a rua e pedras seculares desmaiavam pelos cantos das salas mais obscuras, mas a zona onde estava situado, a enormidade e beleza do edifício, fez dele um negócio apetecível que os tubarões da companhia imobiliária, sempre despertos, não deixaram passar; só a fachada restaria do palácio e falou-se em condomínio fechado com garagens individuais e piscina. Este episódio tinha ocorrido há quase três anos, escritura, papéis assinados, licença de obras, tudo arrastado até ao início da reconstrução que começou há uma semana com uma limpeza interior. Contratou-se uma empresa para retirar entulho, arrebentar soalhos, raspar paredes, arrastar móveis e começar desde já a deitar abaixo algumas paredes que não implicassem a sustentabilidade do edifício. Tudo corria bem até os trabalhadores contratados se começarem a queixar dos exércitos de pulgas aranhas ratos e sabe-se-lá-que-mais-bichos que lhes trepavam pelas pernas e se infiltravam na roupa interior, causando comichões vermelhões irritações, obrigando-os a despirem-se cinco vezes por dia na procura dos repugnantes intrusos nas cuecas meias e virilhas. Contactou-se uma empresa de desinfecção e eu fui a pessoa encarregada de abrir as colossais portas de dois metros e meio em madeira maciça, já que por esta altura o pessoal da empresa contratada se recusava, alegando saúde pública e privada, a por lá os pés até a situação estar controlada.”
Vou deixá-lo em banho maria e se amanhã o início ainda me satisfizer, sigo em frente sem mais demoras.

domingo, agosto 28, 2005

O palácio (Work In Progress)

Vou a partir de hoje começar a escrever um conto aqui no blog. Vou rever ajustar mudar palavras e frases diáriamente, até encontrar o objecto final; o conto completo. Se quiserem deixar sugestões são livres para o fazer (eu gostava que fizessem).

A ideia para este conto é a seguinte:
"Um homem que vai desinfectar um palácio antigo, que a empresa onde trabalho comprou, da bicharada que por lá habita, das escuridões do palácio. Eu sou o narrador na primeira pessoa e acompanho o homem na sua tarefa. O homem da desinfecção cheira a suor, tem a barba suja e é todo ele repugnante."

Primeira frase para o conto:

"O Palácio foi comprado por uma pechincha, estava velho, o telhado caía aos poucos, mas a zona onde estava situado a enormidade e beleza do edificio, fez dele um negócio apetecível, que o meu patrão, sempre desperto para ganhar dinheiro, não deixou passar. "Um condomíno fechado, com garagens individuais e jardins neste zona da cidade, vale ouro - disse com a voz grossa que encheu o escritório." Este episódio tinha ocorrido há quase três anos, escritura, papeis assinados, licença de obras, tudo arrastado até ao início da reconstrução que começou com uma limpeza interior, retirar entulho, arrebentar soalhos, raspar paredes. Tudo corria bem até os trabalhadores se começarem a queixar das pulgas que infectavam todos os cantos do palácio. Contactou-se uma empresa de desinfecção e é neste ponto e sem mais rodeios que esta história começa."

Vou avançar daqui e depois logo se vê.

sábado, agosto 27, 2005

sexta-feira, agosto 26, 2005

Restos (Parte III)

A madrugada estende o seu véu negro rastejante pela cidade. Espreguiço-me no sofá. Os olhos pousam sonolentos no écran da televisão sem prestar realmente atenção; as pupilas dilatam-se com os raios de cor, luz e uma sensação de inércia que assimilei como agradável invade-me. Sei os horários e os canais dos melhores programas pela-noite-dentro. Mudo para a Sitcom que vai começar, mudo para os programas de animais, documentários históricos, biografias, publicidade que me faz chorar, filmes que me fazem rir, milhares de pontinhos luminosos a congestionarem o cérebro sem nenhum esforço da minha parte. Mudo novamente. Mortos no Iraque, fome em África. Tenho tudo que preciso aqui neste sofá. Conto cinco segundos, cinco crianças mortas à fome, conto um minuto, um petroleiro faz uma descarga ilegal, conto para sentir o meu tempo a passar, o meu corpo a envelhecer, a morte a chegar. Rebeldes num país esquecido, praticam genocídio por vingança de anos de escravidão; a última contagem era de quatro mil degolados, centenas de mulheres violadas e corpos de crianças espalhados pelas ruas em torrentes de sangue. “Os rebeldes andam de aldeia em aldeia a matar tudo que respire.” Um homem com os olhos cansados desenraizados agarra com ferocidade um microfone. “Degolam mulheres e crianças”. Esfrego as mãos e bebo um trago de água gelada. Em rodapé: O líder dos rebeldes aceitou ser ouvido pela ONU. Em rodapé: Líder rebelde abre corredor para comboios humanitários, mas não garante a sua segurança. Carrego impaciente no botão. Uma bela mulher, bela demais para ser mulher de alguém, remendada artificial, é demais para usar avental, anuncia um pacote instantâneo que basta pôr no micro ondas dois minutos para termos um belo jantar.

quinta-feira, agosto 25, 2005

As cores do descanso



Um revigorante mergulho verde no sufoco da paisagem d´ouro.


Uma cerveja fresca na noite quente da gorda lua laranja.


No alpendre enquanto a encosta é lambida pelo fogo vermelho.

sexta-feira, agosto 19, 2005

Chegou a minha vez...

Vou para fora cá dentro, para onde o vinho, o pão e a água são muito mais saborosos.
Esperemos que sem incêndios nem fumo se não for pedir muito.

Até breve.

Parabéns

A minha filhota fez hoje um mês.

quinta-feira, agosto 18, 2005

O café

Andava toda a gente alterada, nervosa, uma opressão no ar que não se vê mas que se sente, envolvia todas as ruas becos avenidas esquinas de toda a cidade e foi isso que nos fez reparar no homem que entrou no café. Tinha a pele tostada curtida pelo sol, uma face esguia de onde se erguia um nariz saliente; a saca que pousou aos pés do balcão e a dificuldade em se exprimir na nossa língua, congestionou a atmosfera do café tornando-a pesada e quase, quase palpável. Os primeiros a levantarem-se foi um casal que trocava beijos num canto mais resguardado, pediram a conta e saíram rapidamente. Quase de seguida, um grupo de estudantes, tolhado de um medo indizível, desapareceu pela porta e na mesa ficaram restos de bolos por comer e beatas por apagar. O homem continuava no balcão, não tinha cara de acreditar que seis virgens o esperavam no paraíso, mas hoje em dia não se sabe, não se sabe certo? Tomei o meu café, lutando com a minha moral e convicções, não podia ceder a este tipo de pressão, era apenas um homem que ali estava, porventura com tanto medo como nós, numa terra estranha onde provavelmente tinha acabado de chegar e onde depois de trabalhar era explorado por alguém. Fumei nervoso o meu cigarro. O homem, neste momento definitivamente arábico, lutava com as palavras presas na língua para ele incompreensível. O dono do café apercebendo-se da debandada dos clientes, empoleirava-se no balcão tentado perceber o que se passava. Por fim, o homem da tez morena, conseguiu arrancar a informação que desejava e saiu pegando no saco aos pés do balcão. Apaguei o cigarro e sai vitorioso e tremendo para o espaço aberto da rua.

quarta-feira, agosto 17, 2005

Primeiro beijo

O meu primeiro beijo com língua foi nas dunas de uma praia ventosa com uma espanhola já conhecedora da arte. “Uma dúzia - disse-me orgulhosa. - Já vou na dúzia de beijos de língua e até tenho dois namorados em Espanha.” Verguei-me humilde, sem coragem para desvendar a minha realidade bem menos atractiva. Nesse mesmo dia fui picado por um peixe-aranha e aguentei estoicamente o choro até as traiçoeiras lágrimas caírem; aceitei o castigo e, passados estes anos, penso que a minha fé se começou a degradar nesse momento, mas com castigo divino ou sem ele, estava mais que pronto para uma nova viagem.

segunda-feira, agosto 15, 2005

Nóticias de choque

Hoje o jornal da noite da RTP, passou cinco minutos a falar de um grupo de escuteiros que, imagine-se o inusitado, veio de autocarro de Londres!!! À chegada os familiares choram perante tamanha aventura..! Não vi os outros telejornais, mas imagino que a coisa deve ter sido parecida.

domingo, agosto 14, 2005

Fim de tarde

O velhote andava a passear pela baixa e era uma personagem como nunca tinha visto. Vestia um sobretudo preto que assentava sem dobra nos ombros mirrados. Nos pés, uns sapatos pretos com sola de couro, engraxados e polidos por mão de artista. Uma observação mais cuidada, desvendava um bigode republicano bem tratado, equilibrando a cara esguia e bicuda em forma de pêra. Cabelo ainda o tinha, pintado de negro asa de corvo, sem fio branco. Do centro do rosto, um proeminente nariz com segredos de mil e um cheiros erguia a sua haste, mas o centro nevrálgico eram as sobrancelhas, grossas e respeitosas. Encontrei-o passeando pela baixa, balouçando a bengala com um punho de prata maciça em forma de ganso e olhando com ávida curiosidade para os edifícios, ruas, pessoas e montras como se fosse a primeira vez. De vez em quando sorria, não de ninguém ou de algo em especial, eram só esgares descomprometidos e livres de complemento. Segui-o durante algum tempo, não tinha pressa para ir onde devia. Subiu em direcção à ponte e eu tive um mau pressentimento; um general que adivinhando o fim, veste a melhor farda, dá lustre às medalhas e pega na arma para um último disparo. Ia em direcção à ponte e decidi ir atrás, não fosse o meu olfacto estar correcto. Quando chegamos ao largo da Sé, duas crianças correram em direcção do velhote que as acolheu nos braços e as ergueu no ar como balões. Do bolso do sobretudo, o velhote tirou dois chupas do tamanho de antebraços. Sentei-me rindo do meu fraco nariz. O velhote acenou a uma mulher que fumava encostada a uma porta do convento, mas a resposta foi um virar de costas. Uma das crianças passou a correr bem perto de mim, soltando um grito de criança. O velhote aproximou-se da mulher mas esta deteve-o, ameaçando de nunca mais ver as crianças. Era bem mais nova, talvez fosse filha e as crianças netos. Depois olhou o relógio, chamou as crianças e desapareceram pela quelha. No miradouro da Sé, meti uma moeda no binóculo para ver a ribeira, mas o dia estava enevoado e além dos telhados das casas e dos gritos rúbeos das gaivotas, pouco mais se vislumbrava ou ouvia.

sábado, agosto 13, 2005

Leituras 5



Foi uma coincidência devo admitir, embora depois de ler os oito contos deste “O Buraco na Parede”, me custe esse facto, porque podia ser uma homenagem e se assim fosse, só o meu blog ficaria a ganhar. Mas a verdade é que a única coisa que sabia de Rubem Fonseca, era que tinha sido galardoando com o Prémio Camões em 2003, mas ainda não tinha sentido curiosidade para o procurar. Assim, esta singela coincidência de nomes, fez-me encontrar um autor que merece que os leitores menos atentos, como eu, o encontrem.

sexta-feira, agosto 12, 2005

Um gelado na praia

Caminhávamos os dois ao fim do dia. Nada como um gelado ao pôr-do-sol. Os meus passos seguindo os teus passos, esmagando a tua fina pegada na areia molhada. O perfil da tua carne branca numa toalha azul. “Passa para a frente. Quero seguir teus passos agora.” Corri até me perder e nesse espaço de tempo o avião explodiu no ar. Transformou-se em segundos numa bola de fogo, fumo e combustíveis fosseis; nenhum passageiro sobreviveu. Até hoje ninguém sabe ao certo o que desencadeou a explosão, embora se fale pelos corredores e hangares da companhia aérea em ataque terrorista? Falha mecânica? Ouço o teu nome na garganta de um pássaro, não são bem as sílabas do teu nome mas é por ti que ele chama.

quinta-feira, agosto 11, 2005

Enquanto não começa a bola...


...vai-se jogando um ISS PRO para matar o bicho.

quarta-feira, agosto 10, 2005

"Heroin, it´s my life and it´s my wife"

Por falar em Velvet Underground, existia na escola preparatória Gomes Teixeira, quando para lá fui estudar, 82/83, uma grafite em letras brancas corridas, virada para a rua Júlio Dinis, que alertava os transeuntes dizendo: “Heroin, it’s my life, it’s my wife!”. Aquela frase fora do contexto sempre intrigou os meus 12, 13 anos; que mulher, que heroína inspiraria tamanha devoção? Mais tarde descobri o grito de Lou Reed e com ele veio a guerra, as mutilações, os petardos a caírem sem piedade no meu bairro, abrindo intransponíveis crateras entre famílias e amigos.

terça-feira, agosto 09, 2005

Regresso

A chuva chegou com força demoníaca varrendo a cidade da sujidade. Escorriam rios de água e lama pelas ruas desertas. Cães vadios remoíam o lixo e candeeiros com luz trémula perfilhavam os passeios em legiões de fantasmas. A mulher tinha desaparecido o emprego era uma farsa. Rajadas de vento levantavam nuvens de folhas do chão que se erguiam no ar em pequenos espirais. As mãos geladas a custo tiraram a chave do bolso; a fechadura acolheu a velha amiga. Subiu as escadas carcomidas de húmidade e maus-tratos. Onde estava alguém? Sentiu uma estranha necessidade de fazer algo por aquele pobre prédio, talvez envernizar as escadas. Podia arranjar o soalho de casa. O cheiro da intimidade misturava-se com o ar fresco da janela aberta. Lavou a cara com água morna e deixou-se ficar a olhar ao espelho até os olhos, o nariz e a boca se começarem aos poucos a deformar e uma massa de carne aparecer reflectida; uma outra face no espelho, neste momento era a dela. Tirou a garrafa do saco e deu uma golada; a pressa de chegar a casa desapareceu, agora queria sair, mas para onde ir; a alma rota esvazia. Não havia preparação para tal coisa. O cheiro a mofo dos livros nas estantes, o papel na parede, o sofá restaurado, tudo aquilo era dual. Não demorou muito tempo até M. pegar num martelo, numa chave de fendas e começar a arrancar os tacos do chão.

segunda-feira, agosto 08, 2005

Companheiro de fumo

Sempre que venho à varanda fumar um cigarro, lá está ele no prédio do outro lado. Não lhe consigo ver as feições, só a beata incandescente entre as janelas da marquise, mas sei que está a olhar para mim como eu para ele.

domingo, agosto 07, 2005

6 de Outubro de 1972



Fiz uma pesquisa na net para descobrir personalidades que fazem anos no mesmo dia do que eu. Descobri dois jogadores da bola, um defesa sueco (Andreas Jakobsson) e um guarda-redes australiano (Mark Schwarzer). Depois há um jogador de futebol americano J.J Stokes (poderoso quarterback), aquele ali em cima com o número 83 e um actor Koreano chamado Ryu Si Won. Nunca tinha ouvido falar deles e eles certamente nunca ouviram falar de mim, mas que temos algo em comum isso ninguém pode negar.

Em anos diferentes mas também a 6 de Outubro, temos o primeiro dia de emissão da SIC e a morte da Amália Rodrigues. Sim é verdade, desde à cinco anos para cá, que passo o dia de aniversário a ouvir a saudade e a melâncolia do fado; como se já não bastasse o facto de envelhecer mais um ano.

sábado, agosto 06, 2005

Dia de pesca

Acordei sobressaltado já passavam dez minutos do meu horário de trabalho. Tomei banho à pressa, engoli um copo de leite frio, vesti-me, abri a porta da rua e voltei à sala; sentei-me, hoje não ia trabalhar. O dia estava lindo e o sol primaveril espreitava pelas janelas. “Estou? Susana? Diga por favor ao Sr. Luís que não vou trabalhar, passei mal a noite e vou ver se arranjo uma consulta.” Fui à despensa e tirei as canas de pesca, herança do meu avô; testei o carreto em frente ao espelho. “O Sr. Luís telefonou a dizer que também não vinha trabalhar, parece que o mal é geral”. O carreto lubrificado com óleo de fritos deslizava na perfeição; chumbos em forma de corações e anzóis em forma de anzóis. Vesti um colete verde tropa que nem sabia existir. Arrumei as tralhas dentro de um saco de pano com cheiro a minhoca tostada e desci as escadas, eu, o pescador. Só depois de arrancar o carro é que me lembrei que nunca tinha pescado sozinho o que só aumentou a minha determinação.
Um cartaz na marginal: “Temos Bixa.” Mas naquele dia, só pulga: “É melhor para o robalo.”
Montei um pequeno banco de tecido. A primeira vez que lancei, ficou tudo no rio, só não foi a cana porque a agarrei, a linha velha e gasta rebentou; só um pequeno contratempo até o robalo de cinco quilos saltar para o meu cesto. Lancei. Foi um bom lançamento quase alcançando Gaia; sem obviamente exagero nenhum. Sentei-me à espera. Os barcos, os barcos rasgando a água. O sono morno. Um casal passeando de mão dada. Um puxão, agarrei na cana, outro puxão. “Deixa-o cansar, o peixe precisa de pensar que está a salvo, não queiras tirá-lo logo, dá-lhe linha, não o assustes.” Senti-lhe o pulso dei-lhe linha e ele foi. Por cada espaço que lhe concedia, puxava o dobro para a margem. Com a mão livre tentei chegar ao saco. O coração disparou, o Sr. Luís, olhava-me por cima do ombro. Estava acompanhado de uma jovem e bela rapariga. Parei. Fingi não ver. “Não deixe o peixe escapar homem”. Tentei concentrar-me no peixe, vi-lhe a boca na superfície espelhada. Estava sem forças para se debater, no ponto onde eu o queria. Levantei a cana e agarrei-o com a mão esquerda. “Que belo peixe”. Disse para a sorridente adolescente recomeçando a andar. Mas era só uma velha tainha e aquela rapariga não era a mulher do Sr. Luís.

sexta-feira, agosto 05, 2005

Os teus beijos

Os teus beijos ondas do mar
Os teus beijos ferro em brasa
Os teus beijos sufocados
Os teus beijos bom dia.
Os teus beijos espadas
Os teus beijos água fresca
Os teus beijos vorazes
Os teus beijos boa tarde.
Os teus beijos folhas de eucalipto
Os teus beijos montanha de neve
Os teus beijos relâmpago
Os teus beijos boa noite.

quinta-feira, agosto 04, 2005

Dia na cidade

Quando a manhã regressou ao Porto e o encontrou com nuvens de fumo no ar, recusou-lhe a luminosidade; depois o sol, tossindo febril, amarelou doentiamente o fim de tarde.

quarta-feira, agosto 03, 2005

terça-feira, agosto 02, 2005

Drunk

I think I´m getting drunk
No love can save me now
I just want a last beer honey
To go away from this crazy town

I must be dreaming
A happy end
I´m to drunken baby
Please be my friend

And buy me a last bottle
I don´t have no money left
Please, please, please the last one
I promise I don´t chase you anymore

I must be dreaming
With a happy end
I´m to drunken baby
Please be my friend

I got bad liver
Right one
I got bad brain
Come on
I´m a loser baby
Right one

segunda-feira, agosto 01, 2005