quinta-feira, junho 30, 2005

Sinopse

Um professor com o sonho de reunir milhares de citações e juntá-las de forma a tornarem-se num todo inteligível - o livro do mundo. Um antigo aluno, pretendente a escritor que confunde Amor com poesia, visita o professor regularmente e torna-se o narrador desta história. Uma empregada de limpeza que não limpa nada e um cão que finge ser cego para captar a atenção dos donos.

Ou...

...tudo isto é uma treta e eu não me consigo concentrar no trabalho que me paga a renda.

quarta-feira, junho 29, 2005

terça-feira, junho 28, 2005

Lucky Luke


Mais rápido que a própria sombra

segunda-feira, junho 27, 2005

Troca não comercial

Enviei para o Brasil, a pedido do meu amigo Miguel, uma adaptação dramática dos Possessos de Dostoievsky escrita por Albert Camus, que ele não conseguia encontrar em lado nenhum; ironicamente a editora é a Livros do Brasil. Recebi hoje, em jeito de troca não comercial, uma camisola do Santos, a mítica número 10 do Péle e três cd´s de António Abujamra, conhecido encenador brasileiro, a recitar, - sem ponta de ironia, - poesia de Fernando Pessoa.

domingo, junho 26, 2005

Leituras 2


"Para Nelson Rodrigues, a verdade do futebol estava além do que os olhos podiam ver. Se o videotape não mostrava a sua verdade dos factos, pior para os factos, ou o videotape era burro"

sábado, junho 25, 2005

Barco


Entrei em contacto com a obra de Baltazar Lopes em 2001. O objectivo era fazer uma adaptação em teatro, para o grupo Burbur, do seu romance “Chiquinho”. Li por essa altura alguns contos de Baltazar Lopes para me ajudar a situar a acção nas ilhas cabo-verdianas e houve um que me ficou para sempre na memória. Era a história de um velhote que no fim da vida, construíra um barco para viajar entre as ilhas, mas que depois de estar pronto, descobria que não tinha maneira de o tirar do jardim onde o construíra. Um barco encalhado nas traseiras de uma casa, sem nunca conhecer o mar, sem fazer aquilo para o qual tinha sido destinado.

Por alturas em que trabalhava nessa adaptação, mudei para uma casa um pouco maior. A casa tinha um jardim e estava colada a outra onde ainda vive o Sr. Serafim. Oitenta e cinco anos de marceneiro, fotografo, inventor, marinheiro, agricultor. Quando de bom humor, as recordações, piedosas, voltam à sua cabeça como uma longinqua lembrança, então fala sobre como adora velejar e de ter sido um dos primeiros fotógrafos a fazer casamentos no Porto. Foi também das primeiras pessoas a vender móveis a prestações, móveis que ele mesmo fazia. Um dia falou-me do catamaran que tinha construído. O barco, que se desmontava até caber no carro, já tinha navegado por alguns rios da Europa e, o seu maior feito, percorrido o rio douro desde a fronteira de Espanha até à foz; viagem que o Sr. Serafim ainda quer voltar a fazer.

A semana passada notei um mastro a sair da vegetação no fundo do jardim. Perguntei ao Sr. Serafim que logo me levou a ver o catamaran montado. Para passar o tempo tinha juntado as peças do velho barco. Falou das aventuras partilhadas e a meu pedido, montamos a vela vermelha e branca. Apesar daquele catamaran ser desmontável, a minha imaginação levou-me a Cabo-verde, onde o velhote por fim consegue trazer o mar até ao jardim.

sexta-feira, junho 24, 2005

quinta-feira, junho 23, 2005

Noite de S.João

Da Boavista às Fontainhas
Ó meu rico S. João,
Faz que não faltem as sardinhas
Enche-nos de satisfação.

Nestes tempos de crise,
Que já não temos recuperação,
Dai-nos ao
menos uns trocos
Para comprar um balão.

E se estiveres de bom humor
Nesta noite cheia de vida
Não levas a mal mais um favor
Enche as ruas de alegria.

quarta-feira, junho 22, 2005

Uma estrela entre milhões


Esta foto serve-me para recordar o quão insignificantes e extraordinários todos nós somos.

terça-feira, junho 21, 2005

Anjos de Verão


Carícias antigas caíram no meu sono,
Aconcheguei-as junto ao peito
Como quem mata um cabrito.
Amei em silêncio e a ti também.

Carroças de bois, terra aguilhotinada,
Lâminas de pinheiros em fardos de ar.
Tive medo por mim e por todos nós,
Com os pés presos em blocos de cimento.

Pensei ouvir teu clamor no orvalho,
Mas era o verão a trepar pela calha.
Inclinado no teu dorso senti-o
Forçar as cortinas do nosso olhar.

segunda-feira, junho 20, 2005

The Black Keys



Com a quantidade de bandas que aparecem e desaparecem, há alguns nomes que não podemos deixar passar em claro.

domingo, junho 19, 2005



Tantas casas a desaparecer para prédios sem alma erguer.

sábado, junho 18, 2005

Fraco poeta, louco de Amor



Esperamos por ti.
Sem maldades do mundo
Sem falésias no coração.

Iguais aos da mãe,
Sonhámos abraçados
Em cabelos enrolados.

À espera do sorriso
Aguardamos extasiados
Sempre embriagados
De Amor por ti.

Parece já ver,
Tua face rosada
Teus dedos de fada,
Para eu sorver.

sexta-feira, junho 17, 2005

Leituras


O último capitulo deste livro tem a cena mais electrizante que até hoje li.

quinta-feira, junho 16, 2005

Para lá da noite

Quando acordei ela ainda lá estava. A cabeça pousada na almofada e os cabelos enrolados nos meus. Não me mexi. Fingi ser uma pedra para a não acordar. Os lençóis subiam pelas pernas e pousavam na barriga, deixando a descoberto o umbigo, uma pequena flor, lindo como um biscoito cru. Escorreguei pelo colchão e beijei-lhe o útero. Mexeu-se. Por vezes, quando suspirava assim no sono, recordava-me aquela que já não volta, aquela partida de mau humor, um fundo seco de um poço de lágrimas, daquela que já não volta. Não tenho ilusões, quando acordar, a voz deste corpo não é o dela, recuso ser enganado, quero ser enganado. Passo-lhe a mão pela face e enrolo o indicador num fio de cabelo. Sei que não és tu, mas podíamos fingir, diz que sim e eu fico, ando pela tua casa de roupão e preparo o pequeno-almoço que te levo à cama numa bandeja de carinho. Podemos tentar se quiseres. Suspira. Beijo-lhe as mãos. Se cortares um pouco o cabelo e deixares de pintar os lábios nesses tons de vermelho, talvez o perfume dela ajude. Eu deixo-me enganar se quiseres. Passo o peito do pé pela coxa morna de sono. Puxo os lençóis para baixo e ela estremece, ainda quente. A que não volta tinha mais cabelos, uma farta cabeleira em segredo. Se eu te pedir, deixas crescer o cabelo do Amor? Podíamos tentar se a luz, teimosa, não insistisse em entrar pelas frinchas da persiana e os seus raios me devolvessem a tua cara por completo, que não é a dela. Deixo cair a perna da cama, depois rolo um pouco o corpo até estar no limite e com um silêncio de caçador, pouso ambos os pés no chão e escorrego até à casa de banho. Este cheiro não é meu, este odor que fica aqui não é meu. Podíamos tentar se não fosses tão alta. Olho-me feio ao espelho. Hesito. Volto ao quarto e encarcero a luz da manhã. Sem luz tudo se encaixa, a tua respiração é-me familiar.

quarta-feira, junho 15, 2005

Sobressalto

Fugíamos do ócio, quarta classe talvez, para fazermos explorações a grutas do subsolo do Porto, uma das quais, segundo fonte fidedigna, um adolescente com mais 10 longos anos que nós, começava na falésia onde pousa o arco norte da Ponte da Arrábida, atravessava a zona da Boavista e continuava em minhoca até Arca de Água. Nunca demos com a entrada por muito que procurássemos e para ser sincero, nunca encontramos nenhum desses túneis. Invariavelmente desistíamos e fumávamos uns Kentucky ou mata-ratos, no topo dos arcos da ponte. Depois, já sem esperança e agoniados, escorregávamos pelos arcos abaixo dentro de uma caixa de cartão. Hoje sobressaltei-me no sono novamente, o cartão, como que movido por vontade própria, tinha outra vez desviado o rumo para o rio.

terça-feira, junho 14, 2005

Pecado?


Dizem-nos que não podemos tocar. Estão ali à nossa frente mas não podemos tocar. Podemos ver um filme que nem a loja mais especializada tem ou um álbum de uma banda esquecida pelas distribuidoras. Temos acesso a documentários sobre o corpo humano, sobre o espaço, sobre civilizações antigas, bibliografias e tudo o mais. Mas não podemos tocar.

Estou contra todo o tipo de negócio que envolva este tipo de acesso a material, nunca comprei videos piratas, nem cd's de música, mas para consumo individual? Desculpem, mas não tenho dinheiro para tudo que quero ver e ouvir, nem pachorra para IVA a 21% sobre a música e DVD’s e muito menos para esperar pelas promoções com apenas 10% de lucro para o revendedor em vez dos 20 ou 30. Não me vou privar das coisas que quero conhecer quando as tenho mesmo à mão.

Baixem os preços dos CD’s e dos DVD’s, reduzam o IVA.

segunda-feira, junho 13, 2005

Frente a Frente

Nada podeis contra o amor,
Contra a cor da folhagem,
contra a carícia da espuma,
contra a luz, nada podeis.

Podeis dar-nos a morte,
a mais vil, isso podeis
- e é tão pouco!

Eugénio de Andrade (1923-2005)

domingo, junho 12, 2005

O melhor concerto


Foi o nosso melhor concerto. O público estava animado, cerca de sessenta pessoas, as falhas foram poucas. As músicas novas pediram dança e toda a gente se movimentou. Pediram encore, fizemos dois e uma das músicas foi acompanhada com palmas. Em noites como esta ficamos com a sensação de que vale a pena continuar, o esforço que temos é recompensado pelo retorno que sentimos. Muitos abraços e cumprimentos no fim. Alguém confessou que naquela noite, foi o melhor concerto do mundo, se não contássemos com os fusos horários. Ainda tivemos um improviso de um amigo em gaita-de-foles que varreu a noite em tons celta. Foi uma noite boa em que quase tudo correu bem, excepto talvez o torcicolo com que acordei no sábado; mazelas do rock´n´roll.

sábado, junho 11, 2005

1975 - Parte II

Falava ontem do escaldante ano de 1975 e hoje ouço nas notícias que Vasco Gonçalves tinha falecido.

"A terra para quem a trabalha"

Adeus camarada.

sexta-feira, junho 10, 2005

1975


O país estava arder em 1975. Os dois lados da barricada bem definidos.
Falava-se em guerra civil e pelas ruas rebentavam batalhas campais
entre a revolução e a reacção.
Eu sentia-me seguro e protegido como nunca até hoje.

quinta-feira, junho 09, 2005

[xi]

"fundemos uma revista

que se lixe a literatura
queremos uma coisa com sangue na guelra

piolhosa com pura
fedendo com absoluta
e destemidamente obscena

mas deveras limpa
estão a ver
não estraguemos a coisa
façamos a coisa a sério

qualquer coisa de autêntico e delirante
percebem qualquer coisa de genuíno como uma marca
numa retrete

agraciada com gana e esganada
com graça

apertem os tomates e abram a cara"

e.e.cummings (1894-1962)

Com o rio nos olhos

Fui ver os Bunny Ranch e os The Flaming Sideburns, uma banda filandesa com um poderoso e bem humorado vocalista argentino; alguém do público grita "MARADONA", ele responde apresentando a banda como um perigoso lance radiofónico. Irradiaram energia pura e toda a gente sabe que depois da primeira vem sempre a segunda e o velho barco, sem alma, sem motor, solta gemidos. Chegam alguns amigos e vai a terceira para empurrar a conversa e o rock. Grita-se, discute-se e argumenta-se. Pela escotilha, o rio ao nível dos nossos olhos espelha o céu, uma traineira saí para a faina rasgando a ponte de água até o areinho. Por momentos é me dificil acredito que estou ali, mas o sacana do tempo, não deixa e escoa-se lesto para o rio debaixo de nós. A luz da manhã ergue-se nas costas, as dragas estão silenciosas, a cidade suspira. Um abraço pela companhia, mas não me perguntes pelas conversas, não me recordo de nenhuma embora tenha a certeza que foram importantes. Nos ouvidos o zumbido do feedback acompanha-me à cama.

quarta-feira, junho 08, 2005

terça-feira, junho 07, 2005

Sereiazinha


Paula Rego

Qual será o segredo deste quadro? - pergunta a professora.
A menstruação, - responde a clarividente aluna de onze anos.

Get Behind Me Satan



É verdade que metade é marketing. Irmãos, divorciados e cenas de pancadaria. Mas quem conseguir ou tiver a paciência para se elevar acima do pré-fabricado, vê que no fim sobram as músicas e depois de ouvir as treze sorri. A guitarra eléctrica (belíssima AirLine) foi trocada pelo piano e uma acústica em grande parte das canções e a habitual combustão de pratos de choque e bombo vão-se lentamente evaporando depois das primeiras músicas. É um álbum muito melódico como aliás os outros, mas sem a raiva habitual (detesto a palavra maduro), talvez os White Stripes tenham percebido que as encruzilhadas estão espalhadas pelo caminho e que o diabo, paciente, aguarda de mão dada a Robert Johnson numa delas...

sábado, junho 04, 2005

Arramjem-me um emprego!

"Alta Fidelidade" de Nick Hornby editado pela Teorema

“...as relações precisão de um empurrão...” – pág.86
“ Vai ser bom ver-te. Mas não se ela ouve as minhas...” – pág.134
“...as pessoas solitárias são as maias amargas de todas.” – pág. 138
“...diz ela, é dá uma gargalhada nervosa...” – pág. 141
”...e eu sinto-me com um ar um bocado ali sentado ao lado dela.” – pág. 155
“...fui para a cama com mais ninguém até à depois de sair...” – pág. 156
“ Tem o cabelos negros...” – pág. 158
“...cerca de um mês depois de ser ido embora...” – pág. 184
“...sentavam-se a trocar piadas em frente à televisão a trocar piadas.” – pág. 197

" O crematório fica lonje..." - pág. 213
"...tomar um copo com algumas pessoas a seguir ao trabalho em está um pouco ébria." - pág. 267

Será que despediram o revisor...



...e lhe deram emprego no 24 horas?

Cores