quarta-feira, maio 31, 2006

Um Mal Menor

Tudo começou por um insignificante murmúrio, um pequeno zumbido ruminando na testa. Depois passou para tonturas e por fim o desmaio que culminou na passagem pelo hospital. “Tem pouca glicose, precisa descansar, as tensões muito baixas, análises a isto e àquilo”, tudo misturado com conselhos médicos e olhares para os ponteiros, disfarçados do relógio. Andam no ar, as palavras como roldanas formando perfeitos e científicos mecanismos. Eu muito longe dali, a brincar com a Joana na varanda da minha avó, soprando bolas de sabão ao vento. “Mais açúcar, precisa de mais açúcar para equilibrar o organismo”. Se lhe explicasse o que sentia encolhia os ombros, mesmo assim, abriria o grande livro das doenças e desequilíbrios gerais para nada encontrar. “ Para o seu mal não existe cura, caro amigo”, diria resignado. ”Mas tenho um médico meu amigo que estuda casos assim...”, e pousaria na minha mão um cartão dourado. Obrigado vou indo, já me chega a vizinha do lado, e a gata com cio, largando gemidos do terceiro andar. Já me chega a chuva, a merda da chuva corroendo os passeios encharcando as roupas enegrecendo o coração, sim senhor doutor, a porca da chuva que teima em não amainar por mais que eu dance em círculos. É aqui que volto a Joana, debruçada na varanda, a soprar ao vento grandes e redondos balões de sabão.

sábado, maio 27, 2006

Ainda sou do tempo...





... do Café Luso, onde se faziam tertúlias intermináveis pela noite dentro. Deste Rés do Chão e da gente nocturna de toda a espécie que por ali se sentava. Do cheiro a haxixe entre as mesas e dos saudosos príncipes, a cerveja de pressão que fez história na cidade.

segunda-feira, maio 22, 2006

...e passou um ano.

Este blog faz hoje um ano. Nesta parede que é a minha vida, muitos amigos espreitaram pelo buraco e por aqui andaram e comentaram. Esses amigos estão todos aqui ao lado, onde espreito também. Comecei com um conto chamado Redenção, sem saber que a redenção foi o verdadeiro móbil deste blog, este despejar de coisas por vezes inúteis que nos sobrecarregam a alma. Desde de 22 de Maio do ano passado, muitas coisas aconteceram. Tive uma filha, casei, tive desempregado, desarranjei emprego e voltei a desarranjar. Mudei de casa, comprei uma casa. Sofri como em todos os anos mas sorri muito também, que a vida mais não é do que momentos roubados à rotina. Nestes últimos dois meses pouco tempo aqui passei e nem para dar uma espreitadela aos amigos arranjo um minuto. Hoje saio de casa às 8 da manhã e só volto às 8 da noite. Por aqui me vou arrastando mesmo assim. Comecei um novo blog, onossocalao.blogspot.com, onde rapidamente coloco algum calão que coleccionei ao longo dos anos e pouco mais tempo me sobra. Mas por cá vou continuar a andar com regularidade indefinida.


Bem Ajam vizinhos!

terça-feira, maio 16, 2006

Incêndios florestais

Os centros comerciais são os eucaliptos do urbanismo, onde são implantados secam tudo à volta.

sábado, maio 06, 2006

segunda-feira, maio 01, 2006

Leituras 10


"O que teria acontecido nos EUA e no mundo se o célebre aviador de ideias anti-semitas, Charles Lindbergh, se tivesse apresentado às eleições em 1940 e tivesse derrotado Franklin Roosevelt?"

O livro é muito bom, todos os Philip Roth são aliás muito bons. Apesar de não ser um romance como "A Mancha Humana", inteiramente centrado em questões individuais, "A Conspiração" é sobretudo um livro sobre a comunidade judaica nos EUA antes da segunda grande guerra. O narrador é o filho mais novo de uma família judaica que encarna a comunidade em todas as facetas.
Apesar da ficção, notei ainda a omissão a todas as outras raças dos EUA que foram, com ou sem Lindbergh, oprimidas nesses anos.