domingo, março 30, 2008

Blaise Cendrars, Aventureiro e Escritor

Lendo o "Os livros da minha vida" de Henry Miller, encontrei da parte do escritor, uma grande e incondicional admiração por Blaise Cendrars de quem nunca tinha ouvido falar. Como sou um grande admirador da obra de Miller, fui à procura de Blaise Cendrars. Já sabia muito sobre este autor depois de ler as trinta páginas que Miller lhe dedica em "Os livros...", mas precisava de confirmar lendo a obra. Comprei "O Ouro", publicado pela Assírio & Alvim, com tradução de António Mega Ferreira, e que escreve assim no prefácio de quem também é autor: "O que fascinava Cendrars na história de Johann August Suter não era de ordem diferente daquilo que pode fascinar o mais comum dos mortais: como, por um golpe de vontade, se constrói uma fortuna; e como, por um golpe de azar, se perde a fortuna, por causa de uma fortuna ainda maior. Em meia dúzia de anos, Suter, o homem que atravessara a pé a fronteira entre a Suiça e a França, crivado de dívidas e fugido aos credores, cruzou o continente americano e ancorou na Califórnia, em vastos territórios inexpugnáveis, que, com sentido de organização e disciplina, começou a colonizar. Enriqueceu num instante, o tempo que leva Cendrars a escrever duas ou três páginas." Miller fala assim das personagens de Cendrars: "...é raro vermo-lo emitir julgamentos em relação aos outros. O que se nos depara é que, ao pôr a nu as fraquezas ou as faltas das suas personagens, ele está a revelar, ou a esforçar-se por revelar, a sua natureza heróica essencial. Todas as diferentes figuras - humanas, todas elas demasiadamente humanas - que povoam os seus livros são glorificadas no seu ser básico, intrínseco." Espero ter-vos aberto a curiosidade, eu por mim li o "O Ouro" numa noite de insónias, ontem, como era costume acontecer a Cendrars.

sexta-feira, março 28, 2008

10 canções - parte 6/10


Pixies - Gigantic


A banda que me salvou a vida. Não literalmente claro, mas que me ajudou a perceber que o rock ´n´roll não estava morto. Anos noventa parece-me, mas não posso ter a certeza absoluta desse facto. O que posso ter a certeza absoluta é que os Pixies apareceram com o álbum Surfer Rosa (1988) quando já ninguém esperava por eles, e com isso, ajudaram na pós-revolução que segurou o rock, não o deixando desfalecer em lenta agonia, inflamando-o de ar fresco e puro que se prolongou talvez, até ao Nevermind dos Nirvana. Os Pixies são, e confesso agora e talvez nunca mais, a minha banda preferida de todos os tempos; se disserem que eu disse isto, eu desminto categoricamente. Escolhi esta música porque é cantada pela Kim Deal, desculpa Black Francis, eras tu ou o Lou Reed. Eu explico. Aqui a escolha está ligada ao facto doloroso de a próxima música nesta lista, não ser a Nico, dos Velvet Underground a cantar "I´ll Be Your Mirror", mas tinha de misturar a sedução feminina neste enredo, sem a vossa suavidade e encanto todas estas as listas ficam amputadas. A verdade, é que podia ter escolhido uma dezena de músicas dos Pixies, enfim todas.

quinta-feira, março 27, 2008

Pequim 2008


Decidi boicotar os jogos olimpícos em Pequim. Vou dentro do possível ignorar as centenas de modalidades desportivas que tanto prazer me dão ver. Vou ignorar a abertura e o fecho. Vou fazer este esforço em nome da humanidade do século XXI, da minha filha e de toda a massa de gente que é continuamente explorada em nome de um capitalismo selvagem de fazer inveja aos mais dilerantes inventores desse sistema económico. Pela selvagaria chinesa que dura há anos Tibete, pela ausência de liberdade de expressão, pelas réstias mais ignóbeis do comunismo. Se existissem homens com amor pela vida, com respeito profundo pela humanidade a comandar países, então concerteza esses países recusavam este show-off e abandonariam com certeza os jogos. Está na hora e a hora é agora.

quarta-feira, março 26, 2008

Henry Miller, 1952

Uma citação que me chamou a atenção, num livro que ando por estes dias a ler.
"Nesta época, em que se acredita existir um atalho para tudo, a maior lição a aprender é que o caminho mais difícil é, a longo prazo, o mais fácil. Tudo o que nos é apresentado nos livros, tudo o que parece tão terrivelmente vital e significativo, não passa de uma parcela ínfima daquilo que lhe deu origem e que está ao alcance de toda a gente. Toda a nossa teoria educacional se baseia na ideia absurda de que devemos aprender a nadar em terra antes de nos atirarmos à água. Isto aplica-se ao estudo das artes, bem como à busca do conhecimento. O homem continua a ser ensinado a criar estudando obras de outros homens ou fazendo planos e esboços que não estão destinados a materializar-se. A arte da escrita é ensinada na sala de aulas em vez de ser no âmago da vida. Os estudantes continuam a receber modelos que, supostamente, se devem adaptar a todos os tipos de inteligêngia. Não é de estranhar que produzamos melhores engenheiros do que escritores, melhores peritos industriais do que pintores."
Henry Miller no prefácio de "Os Livros Da Minha Vida" - Antígona

terça-feira, março 25, 2008

10 canções - parte 5/10


U2 - Running to Stand Still


Não tenho a certeza se foi o álbum Boy de 1980, ou o War de 1983 o primeiro que conheci destes irlandeses que não precisam de apresentação, mas parece-me que essa informação não é importante, até porque a música que escolhi, depois de muito matutar, não é de nenhum deles, mas podia muito bem ser, como por exemplo I Will Follow ou New Year´s Day. As datas podem não ser as mais exactas e nem são assim tão relevantes, mas ainda estamos na década de oitenta. O meu melhor amigo tinha um irmão mais velho que tinha algumas pérolas em vinil entre as quais dois ou três álbúns dos U2, e mais algumas coisas muito apetíveis à nossa curiosidade juvenil. Passávamos algumas tardes a ouvir os discos às escondidas do irmão, e assim a minha dedicação pelos U2 foi-se cimentando pouco a pouco. Um dia arranjei coragem e lá pedi ao irmão mais velho, para me gravar uma cassete com os U2, mas não foi uma cassete normal, foi uma TDK Ferro de 90 minutos, virgem, uma preciosidade cravada aos pais. Na mesma altura e com o mesmo amigo, passávamos tardes a jogar Subbuteo e a ouvir em directo ou gravado (ainda tenho algumas dessas gravações) o programa de António Sérgio "Som da Frente" (agora quando ouço a sua voz em anúncios lembro-me sempre dessas tardes). Era a altura dos tele-discos, dos programas como o Countdown, numa época que a MTV (graças a deus), era ainda uma miragem. Echo And The Bunnymen e Joy Division são outras bandas que me ficaram desses tempos. Escolhi uma música do álbum Joshua Tree de 1987, porque nessa altura andava a aprender a tocar guitarra e esta música só tinha três acordes mas muita emoção, um lento crescendo ritmico que acompanha a letra como poucas vezes ouvi (Heroin dos Velvet é muito semelhante neste crescendo ritmo/letra. As notas são as mesmas). Centenas de vezes devo ter tocado e cantado esta música sozinho no quarto, até que me afeiçoei definitivamente a ela.

sábado, março 22, 2008

10 canções - parte 4/10



Ramones - Do You Remember Rock´n´Roll Radio

Os Ramones são do tempo das rádios piratas aqui no Porto, como a Rádio Caos (93.4 MHz) na Praça da República ou da Rádio Cultura (90.0 Mhz) no Marquês. Existia um programa, emitido pela Caos, todos os fins de tarde, que tinha como genérico a música dos Ramones, Do You Remember Rock ´n´Roll Radio. Cheguei nessa altura, com um amigo mais velho, a fazer alguns programas na Caos (tinhamos praticamente de pagar para manter o programa). Durante essas sessões fiquei a conhecer mais bandas do que até então. Aliás nunca tinha visto tantos discos juntos em toda a minha vida. Joy Division, Durutti Column, Echo And The Bunnymen, Killing Joke, U2, Cabaret Voltaire, Devo, The Fall, The Sonics, The Who, Bauhaus, entre muitas outras bandas que explodiam numa Inglaterra infestada pelo liberalismo de Thatcher e do pós-punk. Os Ramones são americanos mas marcam a minha passagem entre o punk e o pós-punk, a viragem para outro tipo de som, outras letras, outras músicas, o percurso até ai feito de dentro para fora, começou a fazer-se no sentido inverso. A quarta música é o Do You Remember Rock ´n´ Roll Radio para dançarem ai em casa, eu vou concerteza.

sexta-feira, março 21, 2008

10 canções - parte 3/10

Bruce Springsteen - Thunder Road

Seria muito injusto não referir a paixão que senti pelas músicas do Bruce Springsteen. Quase ao mesmo tempo do punk, aqui a ordem cronológica pode não ser a exacta, andei a coleccionar discos do Boss. A América fascinava-me na altura, ainda me fascina agora, e nada melhor do que as letras dos primeiros álbuns do Springsteen para sorver um pouco dessa terra tão distante e cheia de mistérios. Conheci a sua música quando foi lançado o mega-super estrondoso e lider de tops de vendas, Born In The U.S.A (1986), mas os discos antes desse são mais carne e sangue, mais sentimento, mais reais, mais a América desconhecida dos desalentos e terras prometidas. As auto-estradas que cruzam terriolas perdidas são a última salvação para quem quer fugir do vazio e partir atrás do sonho. Amores desavindos, filhos não programados, pessoas desempregadas e casas com hipotecas demasiado caras, gente que perde o norte e invariavelmente parte, gente como a gente realmente é. Curiosamente, ou não, foi através de pesquisas sobre o Springsteen que fiquei a conhecer escritores como Jack Kerouac e Jack London, cinestras como Coppola e os irmãos Coen e músicos como Elvis Costelo e Tom Waits, estavam os três num disco que comprei em homenagem a Roy Orbinson, chamado Roy Orbinson and Friends. O que sei sobre a América tem as suas raizes na música de Springsteen e se existe alguma canção que melhor junta as facetas da sua música é Thunder Road (1975), que fica aqui como a terceira música. Uma justa referência ao álbum Nebraska (1982), todo ele acústico e o único que ainda ouço com prazer hoje em dia.

quinta-feira, março 20, 2008

10 canções - parte 2/10


Tha Clash - Spanish Bombs

Fins dos anos oitenta, o punk já tinha estalado há muito tempo em Inglaterra, mas em Portugal estava no auge, para mim claro. Foi em casa de um amigo meu que ouvi o London Calling dos Clash pela primeira vez. Apesar de ele estar sempre a ouvir a música que intitula o álbum, eu sempre preferi o Spanish Bomb. Se tenho de fazer uma lista, tenho de incluir o Spanish Bomb. Mas para incluir esta música como icón daquele época, tenho também de falar certamente de músicas dos Sex Pistols, dos Ramones, dos Television, dos Buzzcoks, da Patti Smith, dos Dead Kennedys e de outros tantos. Esta é segunda canção mas a terceira deve certamente sair da lista de bandas que mencionei em cima.

quarta-feira, março 19, 2008

10 canções - parte 1/10


Sérgio Godinho - Com Um Brilhozinho Nos Olhos

Hoje acordei de sonhos inquietantes. Um sonho não termina quando acordamos, mas que se prolonga pelo resto do dia como uma pulga que teima em ser descoberta. Neste sonho pediram-me para escolher as dez melhores canções de sempre e os dez melhores livros de sempre. Acordei com suores frios e tremoras mas, apesar de tudo não passar de um enorme pesadelo, vi-me na obrigação de levar a cabo tão assustadora tarefa. Passei o dia a remoer nas músicas que me tinham marcado e decidi começar pela mais tenra idade. Recuei no tempo, recuei tanto que acabei a remexer em velhas caixas cheias de pó e cassetes baforentas até descobrir, bem lá no fundo, uma gravação de 1975, feita com os meus tios. Na fita negra esta gravado uma pequena voz cantando, Grrrrrandola Bela Morrrrrena. Em música de fundo ouviam-se as palmas da família babada. Deveria o Grandola Vila Morena a primeira desta lista? E o Com Um Brilhozinho nos Olhos do Sérgio Godinho já lá para os oitentas? A primeira música que soube cantar do princípio ao fim? E a Balada da Rita e o Antes no Poço da Morte? Gosto muito da música do Zeca, mas já não bateu forte para quem nasceu em 72, apesar de nunca ser tarde demais. A primeira música vai para o Sérgio Godinho, chama-se Com um Brilhozinho nos Olhos (É que hoje fiz um amigo e coisa mais preciosa no mundo não há), e engloba a Balada da Rita, Antes do Poço da Morte e Grandola Vila Morena do Zeca Afonso. Já agora uma menção honrosa para o Bairro do Amor do Jorge Palma, praticamente da mesma altura, mas descoberta bem mais tarde. A partir daqui as escolhas tendem a ficar mais nebulosas.

terça-feira, março 18, 2008

The Black Keys

The Black Keys são uma banda de blues-rock composta por Daniel Auerbach (voz e guitarra) e Patrick Carney (bateria), de Akron, Ohio. Conheço bem o álbum Rubber Factory, o primeiro que ouvi e que ainda hoje me parece o mais conseguido e nunca mais deixei de lhes seguir os passos. Attack & Release lançado este ano, trás boas recordações e é de ouvir com atenção. A designação blues-rock não é inocente já que considero que a mescla que eles conseguem entre dois géneros é assinalável, muito inteligente e sensível. A técnica de Slide, que consiste em deslizar um pequeno tubo oco sobre as cordas eléctricas, trás à lembrança as paisagens de Ray Cooder e mais recentemente Ben Harper. Deixo aqui uma música de Rubber Factory.
Discografia completa

The Big Come Up (2002)
Thickfreakness (2003)
Rubber Factory (2004)
Magic Potion (2006)
Attack & Release (2008)


The Black Keys_the lengths

domingo, março 16, 2008

Amy Winehouse & Joss Stone

Em que estas duas cantoras se assemelham? Primeiro as divinas vozes de ambas e um conjunto de boas e algumas excelentes músicas. Em segundo, o facto se serem ambas Inglesas e não Norte-Americanas. Estranho? Talvez não. O facto de serem ambas brancas a cantar músicas com raízes negras, como o Blues? Estranho? Claro que não, os Rolling Stones fizeram isso nos anos sessenta. E quais são então as diferenças além das óbvias? Lembram-se da polémica sobre Joss Stone quando se falou de como era possível uma rapariguinha de 18 anitos, protegida da aspereza da vida por uma educação cuidada, proveniente dos subúrbios de Londres, e que saltou para o estrelato numa espécie de “Chuva das Estrelas” made in England, ter uma voz comparável a Aretha Franklin, a diva Americana que tinha sofrido nos becos urbanos a agrestes desventuras emocionais? Uma voz que toda a gente sabia cantar a dor e a tristeza de uma vida vivida e dolorosa? Não, não era possível! Como podia ser possível?

Porque que é que o público americano prestou mais reverência e entusiasmo a Amy? Porque ela é aquilo que uma cantora de blues tem de ser. Aquele redemoinho anárquico que gira na vida privada de Amy, é o que todos queremos ver. As drogas, o álcool, namorado na prisão, clínicas de reabilitação todos os meses. Ela sim tem o direito para cantar os Blues. Terá? Ela sofre o suficiente para a sua voz conter a angústia dos Blues. Sofrerá?

Quem tem direito a quê? Parece-me, de facto, e dou o braço a torcer, que sinto mais a rua, o sangue e a ruína emocional na voz de Amy, do que na de Joss Stone. Serão as letras das músicas? Será impressão? Será indução? Quem sabe? Talvez não seja realmente possível uma miúda sem calos ter a mesma voz de Aretha Franklin. E Amy será uma miúda mimada? Existe sempre qualquer coisa, qualquer coisa que vem de dentro, mas de tão dentro que é impossível imitar. Talvez nada disto tenha importância alguma para quem ouve com prazer a música de ambas. Mas a história, esse rolo compressor, dirá de sua justiça daqui a quase nada.

sábado, março 15, 2008

Sam Shepard

Foi em 1943 que Sam Shepard nasceu. O seu pai era piloto da força aérea e os anos em que passou perseguindo o pai de base para base causaram-lhe forte impressão, senão os temas para as suas primeiras peças dramáticas: "Eu sinto que nunca tive uma casa, compreendem? Sinto-me ligado a este pais, mas nunca sei exactamente onde pertenço...Existe sempre este nostalgia por um lugar, um lugar onde consiga encontrar-me comigo mesmo."
Estes dados biográficos de Sam Shepard, retirados de http://www.todayinliterature.com/biography/sam.shepard.asp#top, são exactamente as sensações que retiro quando leio as suas peças ou os seus contos, uma permanente procura de algo que teima em nunca chegar, as corridas infernais, mesmo dentro de um pequeno espaço, nas peças de teatro, ou em planícies a perder de vista, com rancheiros, cowboys e gente deslocada no espaço e no tempo, como primordialmente acontece nos seus contos, são fruto desta ausência de sentido de pertença muito vincado na obra de Shepard. Para quem quiser conhecer um pouco da obra deste autor sugiro estas obras.
Crónicas Americanas (Motel Chronicles), da Difel, revela o mundo vertiginoso e por vezes surpreendente do homem, por detrás das peças que tornaram Sam Shepard uma lenda viva do teatro contemporâneo. Shepard escreve neste livro pequenas crónicas autobiográficas – o nascimento em Illinois, memórias da infância na base militar de Guam, em Pasadena e na Califórnia do Sul, as suas aventuras como rancheiro, criado de mesa, músico de rock, dramaturgo e actor de cinema.Muitos temas deste livro estão na base da peça Superstitions e de Paris, Texas, o filme de Wim Wenders de cujo argumento é autor e que, em 1984, recebeu a Palma de Ouro do Festival de Cannes.
Loucos por Amor (Fool For Love), da Relógio D'Água é uma peça teatral que contém algumas das histórias mais intensas e comoventes que Sam Shepard escreveu. Shepard cria dois personagens, May e Eddie, enredados na força de um desejo que não pode ser satisfeito.

sexta-feira, março 14, 2008

Raymond Carver


Raymond Carver nasceu em 1938, no seio de uma família muito pobre. Empregou-se numa serração de madeira e, aos 19 anos, casou. Para sustentar a família foi porteiro de um hospital, vendedor de enciclopédias, motorista de pesados, empregado numa bomba de gasolina, etc.., conseguindo, porém, tempo para frequentar um curso de "escrita criativa". Após vários dramas provocados pelo seu alcoolismo, a mulher deixou-o definitivamente em 1977. Conheceu a poetisa Tess Galagher, com quem partilhou os últimos onze anos da sua vida. "Queres fazer o favor de te calares?" (Teorema, 1989), "De que falamos quando falamos de Amor" (Teorema, 1987) e "Catedral" (Teorema, 1983), são os livros de contos mais conhecidos entre nós. Infelizmente, já não conseguiu vir a Lisboa, onde o esperávamos em Outubro de 1988. A morte prematura, em consequência de um cancro, levou-o a 2 de Agosto de 1988.

Um dos contistas norte-americanos que realmente me ficou na alma. Muitas passagens dos seus textos aparecem na minha cabeça sem serem convidados e em ocasiões estranhas e inoportunas. Raymond Carver não é fácil, pelo contrário é chato, é provocante, é intrigante mas quem quiser ler para não ficar como estava, os contos de Raymond Carver contém a promessa de não deixar ninguém emocionalmente ileso.

quinta-feira, março 13, 2008

Times They Are A Changing

Já não te falo há muito tempo, nem sei ao certo porque aqui estou novamente contigo. Talvez porque hoje vi um filme, um delicioso filme, apeteceu-me chorar, vi-me a mim mesmo desfeito em lágrimas, mas acho que interiorizei que isso não é coisa de pessoas feitas e gordas. Agora gostava de ter chorado, só para ir contra essa estúpida premissa. Dois anos sem aqui passar. Nesta ausência muitas coisas aconteceram, muitas ficaram por acontecer e muitas desejámos fazer acontecer, mas tu sabes, o ritmo impede devaneios e tudo nos impele ao caminho recto sem sobressaltos, mas como eu adoro curvas, tropeções e todos esses actos egoístas que me fazem cair para depois me puder levantar outra vez. Renascer! Mudar de casa, mudar duas ou três vezes de emprego por ano, saltos mortais em profissões, piruetas no futuro incerto mas sedutor! Vontade de rir, tu já reparaste como nos tentam castrar lançando para o ar palavras gélidas como empreendedor, sucesso, investimento, economia, e impigem todas as sílabas como se tirassem um coelho da cartola? Se insistirmos nisso os chineses arrebentam com tudo, no mais execrável pesadelo da guerra fria, no pior dos dois lados. Mas para que te falo disto tudo? O que eu queria dizer é que hoje é o fim do egoísmo, a minha filha cresceu, devias vê-la a brincar no chão da sala com legos e bonecos azuis. Salta de sofá em sofá com se fosse vento e não me deixa parar. Eu agarro-a quando cai desvairada e respiro sem pensar. Tento não deixá-la muito tempo em frente à televisão, mas o que é que um pai pode fazer?