Em que estas duas cantoras se assemelham? Primeiro as divinas vozes de ambas e um conjunto de boas e algumas excelentes músicas. Em segundo, o facto se serem ambas Inglesas e não Norte-Americanas. Estranho? Talvez não. O facto de serem ambas brancas a cantar músicas com raízes negras, como o Blues? Estranho? Claro que não, os Rolling Stones fizeram isso nos anos sessenta. E quais são então as diferenças além das óbvias? Lembram-se da polémica sobre Joss Stone quando se falou de como era possível uma rapariguinha de 18 anitos, protegida da aspereza da vida por uma educação cuidada, proveniente dos subúrbios de Londres, e que saltou para o estrelato numa espécie de “Chuva das Estrelas” made in England, ter uma voz comparável a Aretha Franklin, a diva Americana que tinha sofrido nos becos urbanos a agrestes desventuras emocionais? Uma voz que toda a gente sabia cantar a dor e a tristeza de uma vida vivida e dolorosa? Não, não era possível! Como podia ser possível?
Porque que é que o público americano prestou mais reverência e entusiasmo a Amy? Porque ela é aquilo que uma cantora de blues tem de ser. Aquele redemoinho anárquico que gira na vida privada de Amy, é o que todos queremos ver. As drogas, o álcool, namorado na prisão, clínicas de reabilitação todos os meses. Ela sim tem o direito para cantar os Blues. Terá? Ela sofre o suficiente para a sua voz conter a angústia dos Blues. Sofrerá?
Quem tem direito a quê? Parece-me, de facto, e dou o braço a torcer, que sinto mais a rua, o sangue e a ruína emocional na voz de Amy, do que na de Joss Stone. Serão as letras das músicas? Será impressão? Será indução? Quem sabe? Talvez não seja realmente possível uma miúda sem calos ter a mesma voz de Aretha Franklin. E Amy será uma miúda mimada? Existe sempre qualquer coisa, qualquer coisa que vem de dentro, mas de tão dentro que é impossível imitar. Talvez nada disto tenha importância alguma para quem ouve com prazer a música de ambas. Mas a história, esse rolo compressor, dirá de sua justiça daqui a quase nada.
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