Num segundo estilhaços. Recebemos uma frase solta como uma explosão. A boca azeda, as visceras sobem até à garganta e desejamos impotentes desfazer a boca ao destino. Num segundo apenas, podemos voltar a ter fé e entrar envergonhados numa igreja qualquer; não temos mais ninguém a quem recorrer e a razão vasculha em vão por pedaços em falta. Pecados antigos lançaram este segundo até ao futuro e agora riem das suas covas fundas. O pé cai no vazio do precipício e lá embaixo promessas que não pudemos cumprir erguem-se estridentes para nos ver tombar. Num segundo a nossa vida pode mudar para no segundo a seguir tudo mudar outra vez. Tudo que é preciso é um segundo, um roncar metálico do ponteiro do tempo. Desiludam-se todos aqueles que julgam controlar as emoções do tempo.
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