Entrou na igreja e atravessou o corredor em direcção ao púlpito. Com passadas lentas mas pesadas fez o curto caminho. Depois subiu, os olhos presos no chão, os degraus de veludo vermelho. Parou e espreitou o horizonte como quem espera um autocarro atrasado. O tempo parou por um instante enquanto o estranho pegava ternamente na mão da noiva. O sacerdote deixou cair a bíblia mas não se ouviu o barulho da queda. O noivo tentou erguer a mão que ficou presa no ar. Os convidados, da noiva e do noivo, os acólitos, até gente curiosa que apenas rezava os pecados dos outros, congelou. Mesmo fora da igreja os carros pararam, os trabalhadores pararam com a picareta no ar e até o cão parou com a pata levantada à roda do carro. Todo o mundo tinha congelado num silêncio reverencial. Então o estranho puxou a noiva para junto dele e ambos dançaram uma valsa embalados pelo orgão que se recusou a parar. Depois separaram-se bruscamente e o estranho largou a noiva onde a tinha encontrado, saiu por onde tinha entrado e a cerimónia continuou e o mundo continuou.
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