" - Não pergunto por curiosidade - disse Cincinnatus. - É verdade que os cobardes estão sempre com perguntas. Mas garanto-lhe... Embora não consiga controlar os arrepios e o resto, isso não quer dizer nada. Um cavaleiro não é responsável pelas tremuras do seu cavalo. Quero saber porquê pela seguinte razão: a compensação de uma sentença de morte é o conhecimento da hora exacta em que se morre. É um luxo enorme, mas é um luxo que foi bem ganho. No entanto, deixam-me nesta ignorância, que é tolerável apenas para os que vivem em liberdade."
Uma citação que de um livro de Vladimir Nobokov chamado: "Convite para uma decapitação". Li o "Lolita" ainda na minha adolescência e foi um livro que me marcou, não só pelo conteúdo da narrativa mas pelo essencial da sua forma. Este "Convite para uma decapitação", tem um enredo bastante Kafkaniano, ao jeito do "Processo" ou de "América", mas como Nabokov diz no prefácio: "... eu não sabia alemão, que era completamente ignorante da literatura alemã moderna e não lera ainda nenhuma das traduções francesas ou inglesas das obras de Kafka." Nós acreditamos que Nabokov nada fica a dever a ninguém nas suas verdadeiras emoções, mas a curiosidade mantêm-se; como é possível dentro do mesmo período do tempo dois escritores, um russo, outro checoslovaco terem a mesma sensação claustrofóbica do mundo, esta sensação mesquinha de impotência e passividade exasperantes? Depois de pensar um pouco decidi que essa sensação provém do facto de serem ambos seres humanos.
Sem comentários:
Enviar um comentário