Oliveira vivia no meio do reboliço citadino num pequeno prédio de dois andares no centro da cidade, mas a verdade é que poucas vezes saia de casa e se confrontava com a agitação, permanecia como um recluso, fechado no seu pequeno mundo, com os seus livros, os seus apontamentos e a sua colecção de citações que engrossava todas as semanas. Vivia de um pequeno subsídio de invalidez dado pelo estado o que lhe permitia pagar a renda, comer e comprar alguns livros. Oliveira tirou a roupa três vezes no banco onde trabalhava, sem motivo aparente subia para cima do balcão e começava a desabotoar a camisa, tirar os sapatos e a desapertar o cinto e só nunca terminou o seu propósito porque os colegas vinham a correr tampando-o com impressos de depósitos e formulários de empréstimos. Da primeira vez esteve de baixa seis meses, na segunda um ano com os episódios de nudez a repetirem-se sempre que voltava ao serviço, até que da terceira vez desistiram dele, atribuíram-lhe uma pensão vitalícia e afastaram-no para longe da solenidade bancária. Eu sempre duvidei que a saúde mental de Oliveira fosse assim tão diferente da maioria de nós, mas quando se opta por tirar as roupas em frente a uma velhinha enquanto se lhe entrega a pensão, o mundo assume que passamos definitivamente para o outro lado do espelho.
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