Ao ouvir certas pessoas falar, ficamos com a ideia que a humanidade é tudo que lhes interessa e o bem-estar do seu semelhante um ideal que perseguem, mas depois, e quando confrontadas com a individualidade, são incapazes de a acolher com ternura e fraternidade. É-lhes difícil lidar com o indivíduo isolado, por isso defendem-se no abstracto. A essas pessoas o indivíduo aparece-lhes como feio e deformado. Já humanidade é um conceito que abraçam facilmente, isto por ser uno e não reagir, é impávido e sereno, repousa em terrenos sagrados para lá do entendível. Ao contrário, o conceito de indivíduo pode ser repartido em biliões de partes (uma para cada pessoa) e dificilmente encaixado num sistema seja político ou social, é inqualificável por isso não perceptível. Nunca compreendi como se pode sentir amor pela humanidade e ao mesmo tempo repugnar a individualidade, mas este foi um critério muito comum na história da humanidade, principalmente no século passado, tanto nos regimes comunistas com a ideia do bem comum, tanto dos fascistas abafando o indivíduo em nome da pátria e afins. Se olharmos com atenção, a própria declaração dos direitos humanos, é um documento que dificilmente representa todos os indivíduos e as culturas em que se encerem, mas que repousa na ideia ingénua de que todos somos iguais e regidos pelas mesmas leis e valores e isso parece discutível, por muito duro que possa parecer, mesmo a um apoiante dessa declaração. Assume-se então que um conjunto de indivíduos representa o conceito global de humanidade, mas nunca que a humanidade depende da individualidade de cada um. Por outro lado, quando a sociedade valorizou o indivíduo, este elevou-se ao extremo e, empoleirado em torres de marfim, rodeado de ouro, atirou moedas ao ar. Hoje vivemos na democracia, o melhor dos sistemas políticos possíveis, mas ainda assim, num sistema do salve-se quem puder, da ausência de valores comuns, do egocentrismo, da cunha e da corrupção. O indivíduo passa a ser um estado em si mesmo, tirando o que pode e como pode, as leis são cumpridas apenas pelo medo da sanção e a abundância de ouro permanece como a derradeira justiça.
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segunda-feira, fevereiro 23, 2009
sábado, fevereiro 21, 2009
De que precisam os nossos filhos para serem felizes?
De que precisam os nossos filhos para triunfar na vida? Que instrumentos indispensáveis necessitam para puderem seguir o seu rumo? Estas são as perguntas que mais faço quando olho para a minha filha e suponho que a maior parte dos pais faz. A sociedade actual é competitiva ao extremo, atribuindo à possessão de objectos um valor que extravasa em grande medida o seu real valor. Claro que necessitamos de dinheiro para termos tranquilidade e conforto, mas não competindo uns com os outros como hienas em volta de uma presa, desesperadas por conseguirem o seu pedaço, mas todas de barriga cheia. A crise económica que o mundo atravessa é reflexo dessa ganância de consumo e da vitória sobre os demais, não se pestaneja em calcar o semelhante se isso trouxer dinheiro, não conforto, não tranquilidade, só dinheiro, consumo e estatuto. Individualmente não temos limite na possessão; mais, mais e mais parece ser a palavra de ordem, enquanto outros gritam por um pouco, um pouco, um pouco. Esta competitividade está a ser passada às crianças que irão ter ainda mais dificuldades em impor-se num futuro que se lhes apresenta sombrio. Por isso tentamos dar-lhe as melhores escolas e educação, mesmo que com isso tenhamos de fazer muitos sacrifícios. Estarão elas preparadas para um futuro de abutres? Como se prepara uma criança para um mundo de pesadelos consumistas? Devemos incutir-lhe essa moral da conquista individual ou invés ensinando-os a respeitar os outros como seus iguais, a serem empáticos e solidários? Prefiro claramente a segunda hipótese, parece-me que se o caminho continuar a ser a vitória individual em deterioração da ascensão colectiva, o fim da humanidade espreita ao virar da esquina. O que lhes transmitem no ensino privado? E nas públicas? Que valores lhes incutem nas escolas onde os deixamos todos os dias? O caminho mais duro é o da igualdade que origina por inerência a justiça social, mas é o único possível para uma sociedade futura, solidária e pacífica. De que precisam afinal os nossos filhos para serem felizes?
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