domingo, maio 22, 2005

Redenção

As cidades são redentoras, todas elas sem excepção. Podemos falhar numa relação, errar num juízo ou perder um amigo e mesmo assim ela oferece-nos oportunidade de voltar a tentar. Estava novamente a começar confesso, reiniciar o motor para partir para outro lugar que não fosse aquele onde me encontrava agora e onde uma legião de pensamentos inoportunos atacava a minha tranquilidade. Não sei porque entrei na estação nem que imagem me atraiu, mas sentado naquele banco vendo comboios chegar e partir, consegui por momentos, repostar argumentos. Mostra-me os segredos do teu mar e sufoca-me como se do teu coração duas amarras me abraçassem. Remexo na ferida porque reconheço um certo prazer nisso. Foi-se embora e depois? Depois esta tristeza e desespero. Ultimamente só discutíamos e praguejávamos, atacavas-me com palavras pontiagudas, eu respondia com silêncio cruel. Separamo-nos quando o Amor já não passava há muito pela nossa porta. Acabei a dizer-te que era nómada, que os homens não são plantas, como se isso fizesse de mim um cigano romântico! Riste-te pois claro, que mais podias fazer? Comemos duas maças verdes protegidos pela larga sombra do castanheiro. Tanta gente cruzando-se pela estação; caras coléricas e duras, sorrisos plácido e serenos, olhos cansados, meditabundos, mas nenhum reconhecendo a minha perda, o meu desespero e tristeza. Levantei-me e sai da estação. Só sentia a vida pulsar no âmago da minha alma, quando me encontrava assim, preparado para recomeçar.

2 comentários:

francisco carvalho disse...

Começas bem.
E confessa lá se não fui eu quem te inspirou a aderir à blogosfera...
Sejas bem-vindo.

Nuno Vieira disse...

o teu blog foi uma fonte de inspiração...
aguardo nú novos poemas singulares nunca lidos.
Obrigado.