Chegamos à ilha de barco, numa enorme e bonita traineira chamada Espuma que vendo terminados seus dias de faina, se reciclou ao transporte de turistas. Mal a Espuma começa a sulcar as primeiras ondas, pequenas ilhas como que saltando do mar, abrem um estreito desfiladeiro por onde o barco passa. Todas estas pequenas ilhas têm um farol para guiar os marinheiros incautos em noites de breu. A maior parte delas tem apenas espaço para o farol, parecendo a quem se aproxima de norte, enormes falos neptunais saídos da água. Mais à frente e quando as ondas começam a crescer em forma de u’s invertidos e as primeiras indisposições aparecem entre os passageiros, duas grandes ilhas surgem no horizonte; a primeira com um rabo largo em forma de pêra e a segunda estreita como um cigarro. A Espuma levanta a proa e funde-se agora no sopro salgado. Este foi o pôr-do-sol mais real que até hoje tive a oportunidade de admirar, as nuvens a servirem de filtro natural, permitindo o olhar nu. O meu sócio não partilha a minha emoção e, sentado na ré, maldiz a hora em que se tinha deixado convencer a tal viagem; pela face escorre-lhe um visco amarelado de enjoo.
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