Agora tem uma câmara digital que não larga. Tira fotos a tudo, desde filas de trânsito, montras, candeeiros da rua, anúncios em néon, aviões, fotos a mãos, pés e lábios. Anda como que anestesiado pela cidade à procura de coisas para guardar na máquina, sejam usuais ou não, tudo lhe interessa. Na semana passada a mãe disse-me que o seu último divertimento era tirar fotos à televisão, numa cadência de flashes que andavam a pôr a sua sanidade mental à prova. Segundo entendi, quer construir um diário fotográfico. Ao fim do dia, antes de se ir deitar, escolhe as três melhores fotos e arquivava-as num conjunto de ficheiros com as datas. Tem já um arquivo de seis meses.
“Quando morrer, - dizia com o dedo no nariz, - alguém vai ver e sentir o mesmo que eu.”
Não consigo compreender como um miúdo de sete anos fala da morte como uma realidade objectiva.
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