quinta-feira, agosto 18, 2005

O café

Andava toda a gente alterada, nervosa, uma opressão no ar que não se vê mas que se sente, envolvia todas as ruas becos avenidas esquinas de toda a cidade e foi isso que nos fez reparar no homem que entrou no café. Tinha a pele tostada curtida pelo sol, uma face esguia de onde se erguia um nariz saliente; a saca que pousou aos pés do balcão e a dificuldade em se exprimir na nossa língua, congestionou a atmosfera do café tornando-a pesada e quase, quase palpável. Os primeiros a levantarem-se foi um casal que trocava beijos num canto mais resguardado, pediram a conta e saíram rapidamente. Quase de seguida, um grupo de estudantes, tolhado de um medo indizível, desapareceu pela porta e na mesa ficaram restos de bolos por comer e beatas por apagar. O homem continuava no balcão, não tinha cara de acreditar que seis virgens o esperavam no paraíso, mas hoje em dia não se sabe, não se sabe certo? Tomei o meu café, lutando com a minha moral e convicções, não podia ceder a este tipo de pressão, era apenas um homem que ali estava, porventura com tanto medo como nós, numa terra estranha onde provavelmente tinha acabado de chegar e onde depois de trabalhar era explorado por alguém. Fumei nervoso o meu cigarro. O homem, neste momento definitivamente arábico, lutava com as palavras presas na língua para ele incompreensível. O dono do café apercebendo-se da debandada dos clientes, empoleirava-se no balcão tentado perceber o que se passava. Por fim, o homem da tez morena, conseguiu arrancar a informação que desejava e saiu pegando no saco aos pés do balcão. Apaguei o cigarro e sai vitorioso e tremendo para o espaço aberto da rua.

2 comentários:

Anónimo disse...

:)

E estes textos, teus ou não (hum?), têm uma aura que me encanta!

Anónimo disse...

bem...posso deixar o teu ego um bocadito lá em cima?

os teus textos...TEUS!!!
ENCANTAM_ME!!!

Hum? Já disse isto? Ups...paciência!