Peguei nela ao colo e pus uma música para ver se passavam as dores de barriga (malditas cólicas) à minha filhota. Experimentei os Buena Vista Social Club mas em resposta tive um coro de gritos ainda mais fortes e percebi que a Leonor nada queria com música cubana. Tentei um dub jamaicano mas os lamentos arrebentaram ainda mais estridentes e nem a música que o pai gosta resultou; nada de guitarras eléctricas e malucos aos saltos para a minha filhota. Ainda tentei um clássico com o Chopin para ver se os gostos dela eram mais requintados que os do pai, mas nada aconteceu. Foi então, e já em desespero de causa, que tentei o John Coltrane. E não é que os choros pararam, a minha filhota adormeceu quase instantaneamente nos meus braços. Mas o que a cativava não eram os solos de trompete, mas o piano que os acompanhava. Quando o piano se calava, ela remexia-se nos meus braços. “A chupeta, ela quer a chupeta e não podes ter a música tão alto”, disse a Carla sempre atenta. A Leonor adormeceu tranquila e eu deixei a Mãe a pensar que tinha encontrado a solução, mas só eu e ela é que sabemos que foi o piano que acompanhava Coltrane que lhe mostrou o caminho para o mundo dos sonhos.
1 comentário:
ná, ná, a tua história é bem mais bonita!
:)
Enviar um comentário