caminhou para lá da ideia no destino final e dos caminhos para lá chegar só conseguia andar em frente em direcção à próxima encruzilhada, dormia durante o dia e desafiava a estrada quando a noite acordava, era o melhor momento para evitar as pessoas e as suas pernas de ferro, não comia todos os dias ainda tinha dinheiro nos bolsos descansava em recantos da paisagem como um animal abandonado, isso não lhe fazia a mais leve confusão e sentia-se mais perto da mãe natureza quando pousava o rosto na terra húmida, evitava qualquer aglomeração de casas e pessoas curiosas só muito raramente olhava para trás, quando ocasionalmente o fazia via imagens desfocadas em emaranhados de betão cinzento diabos rugindo sentenças de janelas empedradas gritos de crianças esquecidas cães atropelados agoniando nos passeios os pedintes a morte gratuita a cada esquina; somos todos livres aqui neste canto apesar do mundo de tirania que nos rodeia caminhou cada vez mais para a frente, andou andou até os cabelos começarem a branquear e as pernas a fraquejar, andou andou até o lugar onde tinha partido lhe parecer um sonho difuso e distante e acordava durante o dia com a volúpia dos ramos roçando-lhe o dorso, nada o afastava do objectivo secreto da imagem no fim do princípio do fim do princípio.
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