segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Mudei

Mudar de casa é em parte mudar de vida e ao mesmo tempo regressar a vidas já vividas. Se ou menos conseguissem imaginar as coisas que descobri enfiadas em caixotes! Cartas antigas de amores empedrados, inícios de livros e peças a que nunca ambicionei retornar, contos de juventude que de tão mal escritos, rapidamente regressam ou fundo do báu, não sem deixarem um adocicado na boca, diplomas de cursos imemoráveis, fragmentos da minha vida cheios de pó, limpos na mudança, como algumas recordações. Mas o que mais me reteve foram as fotografias. Eu de chucha na boca, eu no banho, eu de calções, eu a conduzir um carro , eu de férias, nós de amigos que já não vejo, nós do meu Amor, nós da minha família e mais recentemente, as poucas que ainda escaparam ao digital, nós da minha filha. Sentei-me no chão e perdi-me na mudança agarrado aos caixotes. Mudar é bom, mudar custa que se farta, é como o fogo de Heráclito, o devir constante, mudar é o que nos faz humanos. Mudar é como a tempestade de sábado à noite, mas é também como o por-do-sol que se lhe seguiu.

3 comentários:

Anónimo disse...

mudar...
de casa, de emprego, de amigos e/ou pessoas, de namorado, de cidade...

cansa? pode ser...
mas às vezes quase que mata!

francisco carvalho disse...

(já aqui tentara deixar um comentário, mas parece que se perdeu aquando da valente trovoada da manhã...e até me lixou o modem...)

Regressas muito bem, Nuno.
Mudemos sempre para melhor, mas que a memória seja sempre matéria substancial, alimento frutuoso do futuro.
Aquele abraço.

Periférico disse...

Eu também mudei mas foi apenas de gabinete, mudar custa mas também traz nova energia e horizontes!

Obrigado pela visita à minha periferia, só um reparo embora seja de 1972 sou carneiro e não balança!;-)

Um abraço