quinta-feira, maio 15, 2008
quarta-feira, maio 14, 2008
terça-feira, maio 13, 2008
Heraclito, séc. VI a.c
"Heraclito diz algures que tudo está em mudança e nada permanece parado, e, comparando o que existe à corrente de um rio, diz que não se poderia penetrar duas vezes no mesmo rio."
"A verdadeira constituição das coisas gosta de ocultar-se."
"Esta ordem do mundo (a mesma de todas), não a criou nenhum dos deuses, nem dos homens, mas sempre foi e é e será: um fogo sempre vivo, que se acende com medida e com medida se extingue."
"Não é possível descobrir os limites da alma, mesmo percorrendo todos os caminhos: tão profunda medida ela tem."
Fragmentos de Heraclito retirados de "Os filósofos pré-socráticos", Kirk e Raven
sábado, maio 10, 2008
Carta a Vila-Matas
Caro Enrique,
Andei muito indeciso nestes últimos tempos, sobre se seria uma boa ideia escrever-te esta carta ou não, mas depois pensei que ficaria extremamente arrependido se não o fizesse. Talvez possamos trocar umas ideias sobre a vida. Quem sabe tenho uma resposta tua? Pouco mais criei do que umas frases coladas no disco duro deste computador e uns post-it com ideias, pelo menos eu julgo que são ideias, espalhados pelas paredes do escritório. A única coisa que tenho a certeza, é a de ser um bom leitor, ou melhor será dizer, um leitor regular. Mas também um dia deves ter sido assim, lutando contra o desejo de escrever e a arte de calar. Hoje em dia vivo nessa aflição, neste contrabalançar que vai da tentativa ao erro, do erro à tentativa. Um dia ganho forças e sento-me em frente à folha em branco, outros dias penso em tudo para não magicar enredos mentais, penso não pensar e deixar a vontade escoar pelo ralo para puder por fim, arte das artes, preguiçar sobre a vida. Mas por muitos trilhos que o comboio percorra, volta sempre à estação de partida e este desejo de juntar palavras tornou-se mais forte do que eu. A verdade caro Enrique, espero que não te pareça presunçoso este meu à vontade, é que sempre escrevi dentro da minha cabeça, histórias mais histórias que são pontas de novelos noutras histórias desenrolando em histórias, como o Escrevedor da Tia Júlia, esse delicioso romance de Vargas-Losa, onde as personagens de vários enredos se misturam na loucura final do fazedor das novelas radiofónicas. Paul Auster escreveu no seu “Da mão para a boca”, que esteve quase a desistir de escrever, até o dia em que assistiu a um bailado e tudo lhe apareceu claro, as palavras, as frases, o enredo, tudo lhe foi revelado no meio de saltos aéreos dos dançarinos e então, só então, as histórias que escrevia mentalmente, puderam por fim ver a luz do dia. O meu conterrâneo Cardoso Pires, dizia que por vezes passava horas a lutar com uma única frase. Estes dois autores parecem-me representar os escritores do SIM, em contraponto aos teus Bartelys. Aliás, o teu "Paris não tem fim", é um bom exemplo de escritores do SIM, e dessa luta desesperante em fazer algum sentido. Lobo Antunes, outro meu nobre conterrâneo, diz que vale sempre a pena ler os clássicos para depois os pudermos plagiar inocentemente (bonito não é?). Como se acaba um romance inacabado ou como se criam personagens credíveis é um assunto sobre o qual nunca teria coragem de te perguntar e duvido mesmo da existência de uma resposta clara, senão a que descobrimos a escrever e a voltar a rescrever. Assim despeço-me, roubando uma frase tua, “Quem sou eu para escrever? E quem são os outros para me lerem?”
Sem mais nem menos,
Nuno Vieira
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quarta-feira, maio 07, 2008
Vladimir Nobokov
" - Não pergunto por curiosidade - disse Cincinnatus. - É verdade que os cobardes estão sempre com perguntas. Mas garanto-lhe... Embora não consiga controlar os arrepios e o resto, isso não quer dizer nada. Um cavaleiro não é responsável pelas tremuras do seu cavalo. Quero saber porquê pela seguinte razão: a compensação de uma sentença de morte é o conhecimento da hora exacta em que se morre. É um luxo enorme, mas é um luxo que foi bem ganho. No entanto, deixam-me nesta ignorância, que é tolerável apenas para os que vivem em liberdade."
Uma citação que de um livro de Vladimir Nobokov chamado: "Convite para uma decapitação". Li o "Lolita" ainda na minha adolescência e foi um livro que me marcou, não só pelo conteúdo da narrativa mas pelo essencial da sua forma. Este "Convite para uma decapitação", tem um enredo bastante Kafkaniano, ao jeito do "Processo" ou de "América", mas como Nabokov diz no prefácio: "... eu não sabia alemão, que era completamente ignorante da literatura alemã moderna e não lera ainda nenhuma das traduções francesas ou inglesas das obras de Kafka." Nós acreditamos que Nabokov nada fica a dever a ninguém nas suas verdadeiras emoções, mas a curiosidade mantêm-se; como é possível dentro do mesmo período do tempo dois escritores, um russo, outro checoslovaco terem a mesma sensação claustrofóbica do mundo, esta sensação mesquinha de impotência e passividade exasperantes? Depois de pensar um pouco decidi que essa sensação provém do facto de serem ambos seres humanos.
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