sábado, abril 26, 2008

Click

Uma dedicatória especial para as fotos de Ewolman, que por vezes me fazem ligar o computador, mesmo quando chego tarde e cansado a casa. São de uma urbanidade visceral e só possível numa metrópole como Nova York.

Ewolman-Brooklyn, New York

sexta-feira, abril 25, 2008

25 de Abril Sempre


Era muito pequeno, tinha dois anitos. Lembro-me de festejar o 1 de Maio com os meus pais na Avenida da Liberdade, no ano em que tudo correu mal e a polícia agrediu jovens e velhos. Ouvi contar as manobras que o meu pai fez para não ir para ultramar lutar por uma guerra em que não acreditava. Por pouco não sou Francês de Paris de França. Tudo se resolveu e o meu pai lá seguiu para os açores onde salvo erro penou dois ou três anos. A alegria era finalmente gritada pelas ruas. Nunca a recordação do 25 de ABRIL foi tão necessária como agora, quando nos obrigam a concordar com Tratados Europeus e etc e tal, que não sabemos bem o que são. Quando nos impigem uma teoria de educação podre e minada do salve quem puder, alunos incluídos, uma precariedade no trabalho, a subjugação, a denúncia etc e tal. A liberdade é o que faz de nós homens e temos obrigação de a exigir. NÃO ME OBRIGEM A VIR PARA A RUA GRITAR!



REPREENSÃO

Depois de fuzilado
ao levar
o tiro na nuca pra acabar
chateou-se
e viu-se obrigado
a explicar
ao major
que comandava o pelotão
que o tinha fuzilado
por favor
preste atenção
e não me obrigue a repetir
a repreensão
na próxima vez
que mandar matar
dê tempo ao morto
pra gritar
convicto
um último viva a revolução.

"Contos do Gin-Tonic", Mário-Henrique Leiria

quinta-feira, abril 24, 2008

Enrique Vila-Matas (segunda parte)

(87) Fui ver a mesa redonda onde Vila-Matas na segunda-feira passada falou e sim, é verdade que fiquei na fila à espera que me autografasse um livro "O mal de Montano". Também é verdade que fiquei um pouco desiludido com a mesa redonda, pouco se falou e Enrique Vila-Matas estava com um ar abatido, pareceu-me muito cansado e talvez por isso pouco expansivo. Não fui à mesa redonda no intuito de conseguir um autógrafo, para dizer a verdade é o primeiro autógrafo que tenho num livro, isso também é normal porque a grande parte dos escritores que gosto estão mortos ou inacessíveis (esta é a excepcção à regra). Em casa tinha idealizado duas perguntas que gostava de ter feito a Enrique Vila-Matas se a mesa se prolongasse e aquece-se o suficiente, a primeira era qual o escritor que conscientemente mais o influenciou e a segunda era, quem é Paula de Parma? A mulher misteriosa, pelo menos até segunda-feira, a quem sempre dedica os livros. Quando chegou a altura de fazer as perguntas eu vacilei perante um auditório repleto de enormidades literárias e calei. Senti que tinha uma nova oportunidade de pelo menos esclarecer a segunda pergunta quando se formou uma pequena fila para autógrafos; não hesitei. Assim fiz a pergunta a Vila-Matas e ele fez-me três. Cómo te llamas? Nuno? Nuno? Descobri assim quem era Paula de Parma e, segundo o próprio me disse, não estava a inventar, isto porque à única pergunta que lhe foi feita durante a mesa, Vila-Matas respondeu dizendo que nem todas as citações que punha nos seus livros, eram totalmente das pessoas que as escreviam, muitas eram alteradas por ele de maneira a fazerem sentido no seu texto. Esta fórmula que usava tinha-lhe dado alguns problemas mas também divertimentos ao longo do tempo. O que eu nunca imaginei, era que Enrique Vila-Matas ia descobrir o meu blog e fazer um comentário. Um pequeno e generoso comentário. Se eu a partir de hoje padecer com o complexo Não, ou mesmo me transformar num móvel, ou até na Companhia de Bartleby de Melville, Vila-Matas é o culpado, um bom culpado.

domingo, abril 20, 2008

Enrique Vila-Matas

Em Chromos, com palavras parecidas às de Hoffmannsthal no seu emblemático texto do Não, a Carta de Lord Chandos (onde este renuncia à escrita porque diz que perdeu toda a faculdade de pensar ou de falar coerentemente de qualquer coisa), Felipe Alfau explica da seguinte forma a sua renúncia a continuar a escrever: "Quando se aprende inglês começam as complicações. Por muito que se tente, chega-se sempre a esta conclusão. Isto pode aplicar-se a toda a gente, aos que falam por nascimento, mas sobretudo aos latinos, espanhóis incluídos. Manifesta-se ao tornar-nos sensíveis a implicações e complexidades nas quais nunca tínhamos reparado, fazendo-se suportar o acosso da filosofia que, de qualquer modo, se intromete em tudo e, no caso dos latinos, os faz perder uma das suas características raciais: o deixar as coisas em paz, sem indignar as causas, motivos ou fins, sem intrometer-se indiscretamente em questões que não são da sua incumbência e os tornam não só inseguros mas também conscientes de assuntos que não lhes interessaram até então"

Uma citação de uma citação enigmática de um livro que ando por estes dias a ler chamado: Bartleby & Companhia do divertido e muito imaginativo escritor catalão Enrique Vila-Matas. Este escritor vai estar em Matosinhos (Galeria Municipal) na próxima Segunda-feira (dia 21) para apresentação de um novo livro e uma conferência acompanhado por Nuno Judice, José Riço Direitinho, Teresa Loo (escritora holandesa). A moderação da mesa fica a cargo de Laurinda Alves (já lhe perdoei aquilo do aborto!). Às 18h00 para quem se interessar por estas coisas que pouco interessam a ninguém. Fica aqui o link para o programa: Literatura em Viagem.

sexta-feira, abril 18, 2008

O estranho

Entrou na igreja e atravessou o corredor em direcção ao púlpito. Com passadas lentas mas pesadas fez o curto caminho. Depois subiu, os olhos presos no chão, os degraus de veludo vermelho. Parou e espreitou o horizonte como quem espera um autocarro atrasado. O tempo parou por um instante enquanto o estranho pegava ternamente na mão da noiva. O sacerdote deixou cair a bíblia mas não se ouviu o barulho da queda. O noivo tentou erguer a mão que ficou presa no ar. Os convidados, da noiva e do noivo, os acólitos, até gente curiosa que apenas rezava os pecados dos outros, congelou. Mesmo fora da igreja os carros pararam, os trabalhadores pararam com a picareta no ar e até o cão parou com a pata levantada à roda do carro. Todo o mundo tinha congelado num silêncio reverencial. Então o estranho puxou a noiva para junto dele e ambos dançaram uma valsa embalados pelo orgão que se recusou a parar. Depois separaram-se bruscamente e o estranho largou a noiva onde a tinha encontrado, saiu por onde tinha entrado e a cerimónia continuou e o mundo continuou.

domingo, abril 13, 2008

10 canções - parte 9/10



The The - This Is The Day


Esta é dedicada à POP INGLESA, à boa pop inglesa dos Violent Femmes, The Sound, Talking Heads, The Smiths, Duran Duran, Dexy's Midnight Runners, The Waterboys, The Psychedelic Furs, Simple Minds, The Cure entre muitas outras bandas. Esta música é me especial porque contém no seu âmago uma promessa de mudança, uma alteração da rotina, um novo dia, um nascer do sol, uma nova oportunidade. Fazia-me sentir bem e vivo quando a dançava em festas do verão da minha adolescência e ainda hoje sou um pouco conquistado por essa promessa e isso é tudo que me atrevo a pedir a uma música. Esta música faz parte da banda sonora da minha vida.

quinta-feira, abril 10, 2008

10 canções - parte 8/10




Tom Waits - I hope that i dont fall in love with you

Tom Waits! Que doce mistério! Tom Waits canta a vida, toda a vida, todos os pormenores de todas as vidas e quando assim é, um artista pode realmente ser chamado de artista, mas principalmente de Homem. Se eu conseguisse compor duas músicas de qualquer álbum dele, era um homem feliz com a arte e com o desejo que todos temos em alguma parte da nossa vida em expressarmos a nossa criatividade. Que estranha forma de vida, de expressão, de sentimento puro de vida. A música de Tom Waits é a música dos falhados, dos que se perderam na vida e no amor, mas talvez dizer isto seja redutor para o que aprendi nas suas letras. Quem canta a vida e morte nada teme, de nada tem medo. Para mim toda a música do século XX é representada por Tom Waits, numa altura ou outra da sua longa carreira. Primeiro estranha-se depois entranha-se como me disse alguém. Penso que é o cantor que mais fez pela música popular no século XX. Anos noventa, bem medidos! Podiam ser quase todas as músicas mas escolhi esta, do primeiro álbum (Closing Time, 1973), tinha eu um anito.

sábado, abril 05, 2008

Tri-Campeonato



Amanhã lá estarei no Dragão, com seis pontos ou não. Custa engolir a treta dos pontos vinda de uma justiça com ânsia de vingança. Custa engolir coisas como o que ouvi um "comentador" dizer na televisão, que seis pontos não compensam vinte anos. Quem não reconhece o mérito do FCP ao longo destes vintes anos não é "comentador", mas sim um escroque revoltado. Vamos para o TRI Campeão, com ou sem seis pontos, eu digo Campeão porque mesmo se o Porto perdesse todos os jogos até ao fim do campeonato ninguém conseguia chegar perto.

sexta-feira, abril 04, 2008

Martin Luther King, Jr.

De vez em quando a humanidade é abençoado por profetas, por verdadeiros Homens que não se guiam por interesses, preconceitos e parecem pairar em cima de todos nós, comuns mortais. Homens que conseguem imaginar a humanidade como uma só, sem brechas nem sofismas. Martin Luther King permanece um exemplo para a Humanidade. O vídeo é um discurso arrebatador, nem acho que vale a pena ver o Homem que o profere, é irrelevante. É o discurso mais sentido, sem cábulas, porque está tudo lá, a luz, a humanidade, a partida e a chegada, nem sequer é preciso ler nas entrelinhas, porque não tem entrelinhas. O futuro da humanidade não pode andar muito longe destas palavras sábias. Os filhos de Martin Luther King, são os meus filhos também. "I have a dream that my four childrens will one day live in a nation (WORLD) where they will not be judge by the color of there skin (BY NO APPEARANCE) but by the content of their character". Faz hoje quarenta anos que um cobarde seco de esperança como um cadáver ao sol, matou Martin Luther King. Aprendemos alguma coisa?

http://youtube.com/watch?v=IWTKZLKWYHE (Não consegui incluir o vídeo e depois de muita luta com o HTML, achei melhor deixar aqui o endereço)

quarta-feira, abril 02, 2008

10 canções - parte 7/10



The Velvet Underground - Rock N Roll


Conheci os Velvet Underground talvez na década de oitenta, um álbum intitulado VU mas só lhes prestei atenção passados uns bons seis ou sete anos. A capa da banana, do Andy Warhol, o primeiro disco dos Velvet, apareceu-me um dia enquanto pesquisava uns discos usados numa loja da baixa da cidade. Fechei os olhos e pensei que se toda a gente me falava dos Velvet eles certamente tinham alguma coisa de interessante e, como todas as coisas boas não são facilmente perceptiveis ao primeiro contacto, mas necessitam de ser amadurecidas, decidi levar. Dois anos mais tarde já conhecia tudo que haviam para conhecer dos Velvet, do John Cale e do Lou Reed de quem sou fã incondicional (tenho de mencionar o álbum Transformers do Lou Reed de 1972, que na minha opnião é um grande disco de rock ´n´roll). Os Velvet Underground foram um cometa que passou e deixou o seu rasto de luz espalhado no universo da música. Se prestarmos atenção, podemos ainda ouvi-los, em centenas de bandas recentes. Fica aqui aqui o Rock ´n´Roll, mas podiam ficar outras canções (Pale Blues Eyes, I´ll Be Your Mirror, Sweet Jane, Heroin, After Hours), esta é talvez a que mais me marcou porque tocava uma versão numa banda que tive com uns amigos. Hasta!