domingo, fevereiro 26, 2006
sábado, fevereiro 25, 2006
1987
As coisas que se descobrem quando se muda de casa. Corria o ano de 1987, tinha motivos para sorrir. Foi o ano do calcanhar do Madjer, a mais saborosa Taça dos Campeões Europeus, é verdade, a primeira é quase sempre a melhor. Rabat Ajax, Victovik, Brondby, Dinamo de Kiev, vi esta meia-final nas bancadas das Antas, sem conseguir por os pés nos chão. No dia do Bayern fui para o palácio de cristal e vi o jogo numa mesa do café, o écran gigante afinal não funcionou. Á primeira desilusão seguiu-se um golo que fez história. Ao meu lado, o Bexigas, famoso adepto portista, viajante companheiro do 52 Aliados, deu-me um abraço que me deixou marcas nas costelas durante meses, mas quem queria saber disso para alguma coisa, voaram canecas e mesas, quando Juary marcou o segundo o café explodiu. Gente até ali estranha, beijava-se e cumprimentava-se, a Taça era de todos nós e o povo foi para a baixa. Sou do clube da minha terra, sou também do Ramaldense e do Campinas logo a seguir. Também gosto um bocadinho do Boavista, o estádio do Bessa mesmo ao lado de onde nasci e a minha avó e os meus tios que me cantavam o hino xadrez, mas isso não se pode dizer a ninguém!
quinta-feira, fevereiro 23, 2006
Esquinas
Gosto dos ângulos de noventa graus das esquinas e do reboliço interior que me apressa o passo até as transpor. Depois concluo resignado que não há mistério, o meu alimento vem antes da acção, a acção em sí é uma chatice. Mesmo assim não aprendo e alargo a passada até à próxima.
quarta-feira, fevereiro 22, 2006
Leituras 9
Comprei este livro por ser o terceiro ou segundo melhor classificado numa edição que o Mil Folhas fez, onde convidou vários escritores a elegerem o melhor livro que leram em 2005. Não estou nada arrependido o livro é belo e cheio de humor. É a história de um aspirante a escritor ou exilado cultural espanhol que vive num sotão em Paris, alugado por Marguerite Duras. Recomendo a leitura de Paris É Uma Festa de Hemingway para melhor se absorver na atmosfera deste livro.
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segunda-feira, fevereiro 20, 2006
Mudei
Mudar de casa é em parte mudar de vida e ao mesmo tempo regressar a vidas já vividas. Se ou menos conseguissem imaginar as coisas que descobri enfiadas em caixotes! Cartas antigas de amores empedrados, inícios de livros e peças a que nunca ambicionei retornar, contos de juventude que de tão mal escritos, rapidamente regressam ou fundo do báu, não sem deixarem um adocicado na boca, diplomas de cursos imemoráveis, fragmentos da minha vida cheios de pó, limpos na mudança, como algumas recordações. Mas o que mais me reteve foram as fotografias. Eu de chucha na boca, eu no banho, eu de calções, eu a conduzir um carro , eu de férias, nós de amigos que já não vejo, nós do meu Amor, nós da minha família e mais recentemente, as poucas que ainda escaparam ao digital, nós da minha filha. Sentei-me no chão e perdi-me na mudança agarrado aos caixotes. Mudar é bom, mudar custa que se farta, é como o fogo de Heráclito, o devir constante, mudar é o que nos faz humanos. Mudar é como a tempestade de sábado à noite, mas é também como o por-do-sol que se lhe seguiu.
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