quarta-feira, novembro 30, 2005
Norma Jean (1960)
Vale a pena dar uma espreitadela ao site da Magnun Photos e ver Norma Jean pela lente de Eve Arnold entre outras excelentes fotos.
terça-feira, novembro 29, 2005
Vive La Fête (Grand Prix)
segunda-feira, novembro 28, 2005
inverno
chovia chuva fria quando prendi o cão à trela e caminhei de abas levantadas e passadas comprida, rosnei ao bicho para se despachar nos cheiros e a fugir da água do céu, vi-o ao fundo, assim, sentado na pedra húmida do parque de estacionamento embargado onde dezenas de jornais voavam à sua volta subindo e descendo em concavas espirais, subindo e descendo arrumou o cobertor debaixo das árvores e aconchegou jornais velhos junto ao corpo que tinha nos olhos a cor da geada e as mãos duras e invernosas o cão ladrou à chuva, um candeeiro intermitente lançou suspiros de luz à cidade
sábado, novembro 26, 2005
sexta-feira, novembro 25, 2005
Cenas
FILOMENA: João?
RUBEN: Sim?
FILOMENA: Tive um pesadelo.
RUBEN: Anda para aqui.
FILOMENA: Fico assustada quando acordo e tu não estás a meu lado.
...
FILOMENA: Ainda me amas?
RUBEN: Claro que sim. Estava a ver um documentário sobre os campos de concentração. Coisas horríveis.
FILOMENA: Não ganhes o hábito de adormecer aqui na sala, por favor.
...
FILOMENA: Eu adoro adormecer enrolada a ti, os meus fantasmas desaparecem quando sinto a tua respiração na escuridão do quarto. É como quando era criança e o meu pai adormecia perto de mim.
RUBEN: As câmaras de gás, os comboios cheios de pessoas a esticar a cabeça para conseguirem ar e as crianças, o que mais me horroriza são as crianças, esqueléticas.
FILOMENA: Como era bom quando o meu pai me lia livros. Tu também costumavas ler para mim. Dizias que eu era preguiçosa.
RUBEN: Queres te leia alguma coisa?
FILOMENA: Agora?
...
FILOMENA: Passeávamos junto ao mar. Eu andava pelas rochas a recolher búzios e examinar poças de água, tu caminhavas pela areia molhada. Mandava-te beijos por entre as rochas, tu sorrias. Vi uma onda enorme formar-se atrás de ti, tentei chamar, gritei mas continuavas a sorrir.
RUBEN: A onda levou-me?
FILOMENA: Sim, sim.
RUBEN: Foi só um sonho.
FILOMENA: Parecia real.
RUBEN: Sim?
FILOMENA: Tive um pesadelo.
RUBEN: Anda para aqui.
FILOMENA: Fico assustada quando acordo e tu não estás a meu lado.
...
FILOMENA: Ainda me amas?
RUBEN: Claro que sim. Estava a ver um documentário sobre os campos de concentração. Coisas horríveis.
FILOMENA: Não ganhes o hábito de adormecer aqui na sala, por favor.
...
FILOMENA: Eu adoro adormecer enrolada a ti, os meus fantasmas desaparecem quando sinto a tua respiração na escuridão do quarto. É como quando era criança e o meu pai adormecia perto de mim.
RUBEN: As câmaras de gás, os comboios cheios de pessoas a esticar a cabeça para conseguirem ar e as crianças, o que mais me horroriza são as crianças, esqueléticas.
FILOMENA: Como era bom quando o meu pai me lia livros. Tu também costumavas ler para mim. Dizias que eu era preguiçosa.
RUBEN: Queres te leia alguma coisa?
FILOMENA: Agora?
...
FILOMENA: Passeávamos junto ao mar. Eu andava pelas rochas a recolher búzios e examinar poças de água, tu caminhavas pela areia molhada. Mandava-te beijos por entre as rochas, tu sorrias. Vi uma onda enorme formar-se atrás de ti, tentei chamar, gritei mas continuavas a sorrir.
RUBEN: A onda levou-me?
FILOMENA: Sim, sim.
RUBEN: Foi só um sonho.
FILOMENA: Parecia real.
quinta-feira, novembro 24, 2005
terça-feira, novembro 22, 2005
sexta-feira, novembro 18, 2005
tempo de emoções
Num segundo estilhaços. Recebemos uma frase solta como uma explosão. A boca azeda, as visceras sobem até à garganta e desejamos impotentes desfazer a boca ao destino. Num segundo apenas, podemos voltar a ter fé e entrar envergonhados numa igreja qualquer; não temos mais ninguém a quem recorrer e a razão vasculha em vão por pedaços em falta. Pecados antigos lançaram este segundo até ao futuro e agora riem das suas covas fundas. O pé cai no vazio do precipício e lá embaixo promessas que não pudemos cumprir erguem-se estridentes para nos ver tombar. Num segundo a nossa vida pode mudar para no segundo a seguir tudo mudar outra vez. Tudo que é preciso é um segundo, um roncar metálico do ponteiro do tempo. Desiludam-se todos aqueles que julgam controlar as emoções do tempo.
domingo, novembro 13, 2005
sexta-feira, novembro 11, 2005
Senhor Manel
Descobri ocasionalmente e passados quatro anos, que o merceeiro da minha rua, o senhor Manel, afinal se chama senhor Mário. Como ele nunca me corrigiu, imagino que gostava de se sentir outra pessoa, durante os breves momentos em que eu pegava no sal, no azeite e opinava sobre a jornada de futebol.
quinta-feira, novembro 10, 2005
terça-feira, novembro 08, 2005
45 Anos depois.
sábado, novembro 05, 2005
Canções 4 e 5 (inseparáveis na minha memória)
Conheci a música Aquarela do Toquinho e Vinicius de Moraes numa colónia de férias na Foz do Arelho, para onde ia na adolescência. O meu monitor tocava-a na perfeição em guitarra clássica. Outra que tocava era, Sou caipira pira pora da Elis Regina. Ambas me marcaram para toda a vida. Quando cheguei ao Porto, comprei logo os discos com o dinheiro que tinha sobrado, guardei-os junto ao coração e lá ficaram até hoje. Fica aqui a letra de uma delas.
Aquarela
Toquinho/Vinicius de Moraes
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva
E se faço chover com dois riscos tenho um guarda-chuva
Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu
Vai voando contornando
A imensa curva norte sul
Vou com ela viajando
Aquarela
Toquinho/Vinicius de Moraes
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva
E se faço chover com dois riscos tenho um guarda-chuva
Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu
Vai voando contornando
A imensa curva norte sul
Vou com ela viajando
Havaí, Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela branco navegando
é tanto céu e mar num beijo azul
Entre as nuvens vem surgindo
Um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo
Sereno indo
Pinto um barco a vela branco navegando
é tanto céu e mar num beijo azul
Entre as nuvens vem surgindo
Um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo
Sereno indo
E se a gente quiser
Ele vai pousar
Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos, bebendo de bem com a vida
De uma América à outra consigo passar num segundo
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Um menino caminha e caminhando chega no muro
E ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está
E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda nossa vida
E depois convida a rir ou chorar
Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela que um dia enfim
Descolorirá
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
Que descolorirá
E se faço chover com dois riscos tenho um guarda-chuva
Que descolorirá
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Que descolorirá
Ele vai pousar
Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos, bebendo de bem com a vida
De uma América à outra consigo passar num segundo
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Um menino caminha e caminhando chega no muro
E ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está
E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda nossa vida
E depois convida a rir ou chorar
Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela que um dia enfim
Descolorirá
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
Que descolorirá
E se faço chover com dois riscos tenho um guarda-chuva
Que descolorirá
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Que descolorirá
sexta-feira, novembro 04, 2005
Drag Queen
Descobri que a palavra Drag, de Drag Queen, tem origem em indicações que Shakespeare fazia aos actores. Eram as iniciais para Dress As a Girl, numa altura em não era permitido às mulheres representarem.
quinta-feira, novembro 03, 2005
Psico
Hoje uma amiga olhou para um manuscrito meu e disse que pelo género de letra, eu era uma pessoa atormentada e também um verdadeiro camaleão que me adaptava e mudava constantemente conforme as situações. Eu disse-lhe que tinha Spiders From Mars na cabeça. Ela não entendeu, eu também não.
quarta-feira, novembro 02, 2005
Bifurcação
Na cidade não havia tempo para arrependimentos. Tudo corria segundo uma estranha ordem natural que era imposta às pessoas como um fardo. Alguém gritar na rua, castigo, toda a gente a olhar, alguém a fumar no autocarro, castigo, rua, ir de cuecas para o trabalho, pena, manicómio. As manhãs de Nuno não diferiam em muitas das de todas nós, o café com leite, quando ficava sem leite era chá, a preparação do cigarro para depois da paragem no café e o caminhar parcimoniosamente até à escola, onde estudava direito por obrigação familiar. Demorava cerca de vinte minutos este percurso matinal, até descobrir um mais curto com a duração de quinze minutos. Foi com o correr dos dias, variando entre os dois conforme a disposição. O caminho mais longo atravessava o centro da cidade em curvas cotovelo, descidas e subidas íngremes. Cruzava-se neste percurso com multidões de pessoas ainda atordoadas pelo relâmpago do despertador, mães desesperadas com os bebés ao colo correndo para as creches, executivos agarrados aos telemóveis, e estudantes que como ele, caminhavam com pressa ou não. Mas os mais interessantes eram aqueles que pairavam no ar, sem nenhuma marca característica, de vestuário ou atitude, largavam os passos aleatoriamente pelo passeio, com a cabeça em lugares inimagináveis; reconhecia-os pelo olhar, fixo num ponto invisível para lá do que os olhos podem alcançar. Depois havia a rapariga da pastelaria, que tinha as bolas de berlim mais recheadas de creme da cidade, que não estava incluída em nenhum dos blocos de pessoas que formava na cabeça para se entreter, mas que lhe produzia uma sensação que ia descendo pelo pescoço até ao estômago. O caminho mais curto, pelo contrário, era uma interminável avenida de semáforos tristes, de condutores agarrados a filas, com buzinas, fumos, tinta pelo ar, buracos de choques, pinças de cruzamentos e encruzilhadas com cheiro a bode velho; gostava deste caminho porque nas manhãs regadas com noites de insónias, podia facilmente caminhar com os olhos presos no chão sem motivo para os erguer, seguindo simplesmente a recta de paralelos do passeio.
terça-feira, novembro 01, 2005
The Legendary Tiger Man
Não canta em português, nem tem nada com a nossa cultura musical popular. Mas é da melhor música portuguesa que por cá se vai fazendo. Vende com os Wray Gun discos que se fartam fora de Portugal e não lhes faltam concertos pela europa fora. Não dá na rádio, não se adequa às miseráveis playlists que por lá populam. Mais um sapo para a indústria?! musical portuguesa engolir, A Sangue Frio.
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