terça-feira, janeiro 24, 2006
Mudanças
O autor deste blog vai mudar de casa. Malas, caixas, discos e livros às costas. Voltarei lá para meados de Fevereiro quando a poeria tiver assentado. Até lá. Abraços.
segunda-feira, janeiro 23, 2006
domingo, janeiro 22, 2006
Dia de eleições
Cavaco ganhou as eleições à primeira como os seus apoiantes desejavam, ainda assim só com 0,6% de diferença de uma segunda volta que haveria de ser renhida. Mas o que mais me assustou desta noite de presidenciais, foi o elaborado plano do primeiro-ministro, em esperar o momento de Manuel Alegre fazer a sua declaração para vingativamente fazer o seu discurso. O engenheiro agiu assim de forma fria e calculista e impediu os 20,7% de eleitores que votaram em Manuel Alegre de ouvir a declaração final do candidato, em vez, ficamos pelas desculpas esfarrapadas de que nada tem a ver com nada, de que quem vota numa coisa não vota noutra e por aí em diante. Sócrates e Cavaco vão concerteza viver felizes para sempre.
sábado, janeiro 21, 2006
Lili Marlene
sexta-feira, janeiro 20, 2006
Cabaret II
quinta-feira, janeiro 19, 2006
quarta-feira, janeiro 18, 2006
O velhote (2001)
A chuva não parava e este inverno tinha sido, segundo a sua memória, o mais húmido e ventoso de sempre. Pelas botas pretas e cansadas, a água das poças entrava como num bueiro, mas comprar outras no fim da estação era um gasto extraordinário a que não se podia permitir. O seu chapéu de flanela cinzenta escura também conhecera melhores dias, assim como o sobretudo de tons igualmente escuros e já sem forro que teimava em não largar, para dar lugar ao novo, estacionado no cabide, oferecido no Natal pela filha. Apesar de tudo o velhote apresentava um aspecto harmonioso e nada desinteressado. Para isso contribuía a bengala com o cabo em forma de cabeça de pato em osso maciço, de um branco tão reluzente que, como uma pedra preciosa, equilibrava o conjunto, transmitindo a quem o via passar, a sensação de um velhote calmo aceitando o destino cruel da idade mas sem perder o seu rumo e dignidade.
Dava os seus passeios pela cidade que conhecia como a palma das mãos, isto antes de a começarem a desventrar com bulldozers e martelos hidráulicos. Agora já não acertava nas esquinas nem nos bancos dos jardins que continuavam inacessíveis. Ignorava para onde tinham levado os patos do jardim da Cordoaria, e desconhecia o paradeiro dos seus companheiros de sueca. “ Estão a abrir buracos para nos enterrar a todos”, diziam os velhotes colados à vedação, entretidos a ver o pessoal novo a trabalhar. O nosso velhote nada tinha a ver com os outros, acreditava no progresso e numa nova cidade, e tudo que saia no jornal e na televisão eram apenas encruzilhadas que mais cedo ou mais tarde se haviam de desfazer; o problema era o tempo que não lhe era favorável. Gostava de um dia ver a nova cidade.
Tudo passava rápido de mais para o seu corpo adormecido. A gente nova corria de um lado para o outro como formigas, entrando e saindo dos autocarros, atravessando as ruas fintando os carros, comprando prendas nas lojas, acendendo um cigarro apressado, engolindo refeições baratas ou tomando, de pé junto ao balcão, cafés atrás de cafés...o velhote parava, por vezes parava. Encostava-se a uma esquina e deixava o fluxo da cidade seguir o seu rumo. Quando se sentia mais dinâmico entrava na estação dos comboios e, depois de admirar os azulejos, sentava-se junto das linhas vendo as pessoas correndo atrasadas para os comboios. Quantidades intermináveis de pessoas surgiam do nada quando o apito finalmente tocava, agarradas a telemóveis, que na cabeça do velhote, eram comunicações para as pessoas amadas, crianças com as mãos fincadas nas saias das mães, assustadas com a anárquica movimentação. Passava horas sentado naquele banco de madeira verde erva, carcomido pela húmidade e facadas de juras de amor eterno. Sentado, via a cidade correr em frente aos seus olhos, compensando o seu inconveniente cansaço. Sentia apenas saudades da mocidade, pela agilidade do corpo, não por andar a correr de um lado para o outro como aquela gente, e se de alguma coisa se arrependia, era ter feito precisamente o mesmo que eles; acabou por achar que as pessoas não têm consciência que a velocidade é proporcional ao desespero, e explicava à filha: “Sempre a correr não temos tempo para apreciar nada, é como quando viajamos num comboio e pela janela apenas vemos raios de cor demarcando a paisagem,” e concluía nostálgico, “pena só me ter apercebido disso tarde de mais”.
Dava os seus passeios pela cidade que conhecia como a palma das mãos, isto antes de a começarem a desventrar com bulldozers e martelos hidráulicos. Agora já não acertava nas esquinas nem nos bancos dos jardins que continuavam inacessíveis. Ignorava para onde tinham levado os patos do jardim da Cordoaria, e desconhecia o paradeiro dos seus companheiros de sueca. “ Estão a abrir buracos para nos enterrar a todos”, diziam os velhotes colados à vedação, entretidos a ver o pessoal novo a trabalhar. O nosso velhote nada tinha a ver com os outros, acreditava no progresso e numa nova cidade, e tudo que saia no jornal e na televisão eram apenas encruzilhadas que mais cedo ou mais tarde se haviam de desfazer; o problema era o tempo que não lhe era favorável. Gostava de um dia ver a nova cidade.
Tudo passava rápido de mais para o seu corpo adormecido. A gente nova corria de um lado para o outro como formigas, entrando e saindo dos autocarros, atravessando as ruas fintando os carros, comprando prendas nas lojas, acendendo um cigarro apressado, engolindo refeições baratas ou tomando, de pé junto ao balcão, cafés atrás de cafés...o velhote parava, por vezes parava. Encostava-se a uma esquina e deixava o fluxo da cidade seguir o seu rumo. Quando se sentia mais dinâmico entrava na estação dos comboios e, depois de admirar os azulejos, sentava-se junto das linhas vendo as pessoas correndo atrasadas para os comboios. Quantidades intermináveis de pessoas surgiam do nada quando o apito finalmente tocava, agarradas a telemóveis, que na cabeça do velhote, eram comunicações para as pessoas amadas, crianças com as mãos fincadas nas saias das mães, assustadas com a anárquica movimentação. Passava horas sentado naquele banco de madeira verde erva, carcomido pela húmidade e facadas de juras de amor eterno. Sentado, via a cidade correr em frente aos seus olhos, compensando o seu inconveniente cansaço. Sentia apenas saudades da mocidade, pela agilidade do corpo, não por andar a correr de um lado para o outro como aquela gente, e se de alguma coisa se arrependia, era ter feito precisamente o mesmo que eles; acabou por achar que as pessoas não têm consciência que a velocidade é proporcional ao desespero, e explicava à filha: “Sempre a correr não temos tempo para apreciar nada, é como quando viajamos num comboio e pela janela apenas vemos raios de cor demarcando a paisagem,” e concluía nostálgico, “pena só me ter apercebido disso tarde de mais”.
terça-feira, janeiro 17, 2006
Black No More
Não vou voltar a ser lúgubre. A melancolia não é estatuto. Não é por andar de preto e soturno que vou parecer mais sofredor e merecedor das graças divinas do que os outros. Hoje decidi andar feliz sem tretas depressivas e pseudo intelectuais. Não vou voltar a sofrer em vão. Vou ser feliz com o que tenho, porque é isso que me alimenta.
domingo, janeiro 15, 2006
No Direction Home
O documentário de Martin Scorsese "Bob Dylan - No direction home", é no minimo muito bom (ver a série The Blues, produzida pelo mesmo realizador). A forma como Scorsese começa o documentário com um Dylan humano, cheio de falhas e contradições, a metarmorfose até a estrela mundialmente conhecida e o lento embalo que nos trás ao ponto de origem é um regalo sentimental. As entrevistas despidas de segredos de Bob Dylan são uma delícia.
quinta-feira, janeiro 12, 2006
PR sofre pressão de músicos Portugueses*
A redacção do Inimigo Público teve conhecimento que o Presidente da República se prepara, devido a insuportáveis pressões exercidas pela indústria musical nacional, para condecorar uma banda portuguesa com a Ordem da Liberdade. Depois dos irlandeses U2, os artistas portugueses vieram a público mostrar a sua indignação por nenhuma banda portuguesa receber a condecoração atribuída àquele conjunto estrangeira: “Temos entre nós músicos tão ou mais solidários que os U2, porque é que só quem canta em inglês tem direito à Ordem da Liberdade?”, disse ao Inimigo Público Tozé Brito da Universal. Outras reacções não se fizeram esperar e Emanuel, reagindo a quente depois de um concerto na Rebordosa, disse a uma rádio local que a música “Os Contentores” dos Xutos & Pontapés é a canção mais solidária de sempre e que a frase “a carga pronta e metida nos contentores” é uma clara metáfora de como ajudar África. Rui Veloso, que não quis comentar, está também na corrida à apetecida condecoração, depois de pelo centésimo ano consecutivo, dar a cara pela campanha Pirilampo Mágico.
*texto que fiz para mandar para um concurso do suplemento Inimigo Público mas acabou na gaveta (leia-se disco rigído).
quarta-feira, janeiro 11, 2006
segunda-feira, janeiro 09, 2006
Agradável surpresa
Quando apareceram, e até este disco, os The Strokes sempre me pareceram uma banda pré-formatada e quando assim é, fico normalmente de pé (orelha) atrás; raramente dou o braço (orelha) a torcer. Porém, todas as regras têm uma excepção, e ao ouvir este novo álbum, tive uma agradável surpresa e então a orelha aqueceu. Os The Strokes têm um som deles e no caso deste álbum um bom som.
sábado, janeiro 07, 2006
Os melhores livros que li em 2005
Indo de encontro à edição de hoje do Mil Folhas (Balanço 2005), deixo aqui os melhores livros que li em 2005. Não estão em ordem de preferência (isso não consigo fazer), e a maior parte nem são edições de 2005.
A Mancha Humana
Philip Roth
Ed. Dom Quixote
Ruído Branco
Don Dellilo
Ed. Presença
Pensei Que O Meu Pai Era Deus
Paul Auster
Ed. Asa
Memória Das Minhas Putas Tristes
Gabriel Garcia Márquez
Ed. Dom Quixote
Luz Em Agosto
William Faulkner
Diário de Notícias
O Chão Que Ela Pisa
Salman Rushdie
Ed. Dom Quixote
Alta Fidelidade
Nick Hornby
Editoria Teorema
(apesar dos clamorosos erros de tradução ou impressão)
American Buffalo
David Mamet
methuen – modern plays
Loucos Por Amor
Sam Sheppard
Relógio D´Àgua
Teatro I e II
Harold Pinter
Relógio D´Àgua
A Mancha Humana
Philip Roth
Ed. Dom Quixote
Ruído Branco
Don Dellilo
Ed. Presença
Pensei Que O Meu Pai Era Deus
Paul Auster
Ed. Asa
Memória Das Minhas Putas Tristes
Gabriel Garcia Márquez
Ed. Dom Quixote
Luz Em Agosto
William Faulkner
Diário de Notícias
O Chão Que Ela Pisa
Salman Rushdie
Ed. Dom Quixote
Alta Fidelidade
Nick Hornby
Editoria Teorema
(apesar dos clamorosos erros de tradução ou impressão)
American Buffalo
David Mamet
methuen – modern plays
Loucos Por Amor
Sam Sheppard
Relógio D´Àgua
Teatro I e II
Harold Pinter
Relógio D´Àgua
sexta-feira, janeiro 06, 2006
quinta-feira, janeiro 05, 2006
Lobos com pele de ovelha
Nunca pensei ver e ouvir o Grândola Vila Morena num jantar a promover a candidatura de Cavaco.
quarta-feira, janeiro 04, 2006
Diálogo
O que fazias tu para mudar o mundo?
Sei lá, mas gostava de fazer alguma coisa.
Como por exemplo? E não me venhas com a ecologia ou a globalização, estou cansado de mais para causas perdidas.
Não deixa de ser estranho. Conseguimos imaginar ideias abstractas como a ecologia e a globalização e marcar posições claramente definidas, mas somos incapazes de por a mão a um desesperado na rua, um mendigo triste ou um velhote gasto e o principal, nunca tocamos em alguém que não faça parte das nossas relações, somos incapazes de tocar num estranho. Temos medo do contacto?
Claro que sim e é normal. Temos medo da porcaria e das doenças.
Podíamos pelo menos sorrir quando nos apetecesse?
Sorrir? Nunca sabes quem tens pela frente. Não vês as notícias?
Recebemos afectos por ondas magnéticas e circuitos integrados.
Cala-te lá com essas divagações. Afinal o que fazia para mudar o mundo?
Sei lá, mas gostava de fazer alguma coisa.
Como por exemplo? E não me venhas com a ecologia ou a globalização, estou cansado de mais para causas perdidas.
Não deixa de ser estranho. Conseguimos imaginar ideias abstractas como a ecologia e a globalização e marcar posições claramente definidas, mas somos incapazes de por a mão a um desesperado na rua, um mendigo triste ou um velhote gasto e o principal, nunca tocamos em alguém que não faça parte das nossas relações, somos incapazes de tocar num estranho. Temos medo do contacto?
Claro que sim e é normal. Temos medo da porcaria e das doenças.
Podíamos pelo menos sorrir quando nos apetecesse?
Sorrir? Nunca sabes quem tens pela frente. Não vês as notícias?
Recebemos afectos por ondas magnéticas e circuitos integrados.
Cala-te lá com essas divagações. Afinal o que fazia para mudar o mundo?
terça-feira, janeiro 03, 2006
Canções 7 (Ziggy Stardust)
Não sou grande fã de Bowie. Acho que a importância que teve na música se deve mais às pessoas que redescobriu como o Lou Reed e o Iggy Pop do que propriamente às músicas que compôs. Isso não invalida um ou dois bons álbuns como o Ziggy Stardust And The Spiders From Mars. Curiosamente conheci esta canção pela mão dos Bauhaus que também me apresentaram Marc Bolan com a excelente versão da música Telegraph Sam. Como quase todas as canções que referi em posts anteriores, esta ficou para sempre comigo porque a tocava bem em guitarra. Lembro-me nas noites no Xarope em ficávamos a esvaziar o barril. Alguém resmungava quando divagava nas cordas: toca o Ziggy Stardust e deixa-te de tretas. Era Ziggy Stardust, poker, cerveja e um monstro colado na parede.
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